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Comportamento

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De uns dois anos pra cá, começaram a pipocar comerciais e campanhas de marcas que visam o empoderamento de minorias. Salvo engano, o primeiro comercial “polêmico” foi o d’O Boticário, em que um casal de homens gays comemorava o natal (ou dia dos namorados, ou qualquer outra data comercial, rs).  A cada “diferente” que aparecia em propagandas tendo sua condição social celebrada, vinha uma pororoca de reclamações das mais diversas. Com as gordas não seria diferente, rs.

Ano passado, a Ju Romano saiu nua na capa da Elle online, com celulites e dobrinhas à mostra. Foi o suficiente para as leitoras da revista baterem palmas, com ressalvas de que “se a saúde dela está bem, então tá ótimo”. Como se isso fosse uma preocupação em todas as outras 11 capas do ano, com modelos magérrimas. O mesmo aconteceu quando a Ju anunciou que sairia na Playboy. Como uma mulher gorda ousaria posar para uma revista famosa por fazer editoriais com mulheres encalacradas no padrão socialmente aceito de beleza. Nesse episódio da Playboy, vi até feminista tentando diminuir a blogueira . É complicado entender o impacto da representatividade quando não é feito recorte no feminismo. Nenhuma mulher magra vai conseguir entender o significado de ter a Ju Romano como atração da revista.

E assim é com qualquer outra mídia que se atreva a colocar uma gorda na mídia desconstruindo a imagem de sofrida/engraçada/feia/preguiçosa/triste. Sempre vai ter alguém para reclamar, sempre vai ter alguém pra falar que “não importa se é gorda ou magra, somos todas iguais”, ou que querem insistir que ser gordo é bonito. É claro que, na maioria das vezes, o comentário vem de uma pessoa magra.

Seria perfeito que todos fossem celebrados exatamente do jeito que são. Mulheres e homens, cis ou trans, de todas as etnias, condições e biotipos físicos, independente de orientação sexual. Mas a internet tá aí, dia após dia mostrando para o mundo que não é bem assim. A quantidade de comentários de ódio dizendo que as empresas estão fazendo apologia à obesidade é inacreditável, e, com a rejeição, muitas marcas acabam recuando, o que é uma pena, porque:

 

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Gorda usa maquiagem

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Gorda abre conta no banco, faz cartão de crédito, entra no cheque especial (risos nervosos)

 

                                    Gorda bebe cerveja

 

E usa pasta de dente, come pão com margarina, tem celular de última geração… Portanto, esse é só o início. Nenhum passo atrás.

 

Eu não sei vocês, mas tô amando planejar minha festa de casamento. Sempre fui festeira, sempre coloquei a mão na massa nos meus aniversários, nos da minha família e até mesmo em alguns jantares para amigos íntimos lá em casa. Então, se tratando de uma festa que é o sonho da minha vida, eu não vou medir esforços para que ela saia, na medida do possível, do jeitinho que eu e Diego sonhamos.

Nessa busca pelos detalhes, percebi o quanto de machismo vem sendo colocado nas cerimônias e nas festas de casamento. Na cerimônia religiosa eu consigo até “entender” algumas falas, apesar de não concordar, mas é bem triste ver que muitas das novidades nas festas carregam doses cavalares de machismo e misoginia.

Já na abertura da cerimônia, de uns anos pra cá tenho visto crianças – geralmente meninos, para já aprenderem sobre a “brodagem” – fazerem o caminho até o púlpito com uma plaquinha que diz “Ainda dá tempo de fugir”. Como se o noivo fosse um coitado, estivesse ali por obrigação e/ou pressão. Pode acontecer, claro, mas creio que seja uma minoria muito insignificante pra que essas plaquinhas “engraçadas” estejam se alastrando tanto nas cerimônias. Planejar casamento é gostoso, mas também é estressante, precisa de parceria, companheirismo do casal. Se o cara se empenhou tanto em estar ali, qual seria a razão para fugir? Não satisfeitos, atrás geralmente vem outra cria, com a plaquinha onde se lê “Foge não, ela tá linda“. Como se o casamento dependesse disso, como se baseasse exclusivamente na vaidade ou beleza da noiva. Close erradíssimo.

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A cerimônia religiosa muitas vezes vêm com falas machistas e que fazem parte do que algumas religiões acreditam, como submissão da mulher, homem posto como provedor da casa, etc. Particularmente acho ofensivo, por esse motivo, optei por amigos nossos celebrando.

É chegada a hora da festa. Comida, bebida, música… É chegada a hora do buquê. Eu gosto do misticismo divertido dessa tradição que deixa várias mulheres enlouquecidas, principalmente depois da bebida, haha. Uma amiga minha casou esse ano e chamou todas as mulheres da festa, solteiras e casadas, para jogar um… vibrador! Segundo ela, solteira ou casada, o importante é ter prazer na vida. Acertou em cheio, e a disputa foi acirrada, haha.

Só que inventaram algo para os homens também. Algo desnecessário, sem o mínimo de tradição cujo intuito é exclusivamente rebaixar a mulher. Na cabeça deles, se as mulheres jogam algo para as amigas solteiras “desencalharem” (como se esse fosse o único objetivo de uma mulher), os homens também tem que jogar algo para os convidados que ainda não casaram. Seguem as opções de objetos jogados:

Um abacaxi

A agenda com telefone de outras mulheres

Uma "piriguete"

O primeiro é um abacaxi. A versão similar é uma bomba, que geralmente vem com os dizeres “agora a bomba é sua, você é o próximo“. Ou seja, pobre homem que pegar, vai ter que lidar com a mulher que ele divide a vida querendo formar casa e família. “Segura essa bomba uehueheuheuheueueeu”. Sério, caras? Por favor, cresçam.

O segundo consegue ser ao mesmo tempo mais depreciativo que a bomba e menos que o último. É a “agenda do pegador”. E daí se o cara passou os últimos anos namorando com a mulher com quem ele está se casando agora? Pela lógica imbecil de quem joga isso, você só se “desfaz” afetivamente ou sexualmente de outras mulheres depois que casa.

O terceiro é uma versão piorada da tal agenda: o noivo joga uma boneca, que representa “a piriguete”. Obviamente ele deixa bem claro aí que “piriguete” são as outras, a mulher dele é maravilhosa e é por isso que ele está casando com ela e descartando a outra. Além de baixo, é completamente desumanizador, é tratar a mulher como uma coisa.

Por último, mas não menos importante: os bonequinhos do bolo. Te parece divertido ver em cima do bolo, naquele momento em que o casal está brindando com a família e amigos queridos, um bonequinho simbolizando você arrastando/algemando seu noivo e o fazendo casar à força? Não é muito mais legal e engraçado fazer com que toda a festa mostre a história linda que fez com que vocês chegassem ao ponto de dividirem o mesmo teto? Se seu noivo não está casando obrigado ou sob pressão, porque esses bonecos que fazem de você uma noiva “megera” estão no topo do seu bolo?

Longe de mim querer cagar regra na festa de casamento alheia, mas a gente precisa parar de naturalizar essas “brincadeiras”, principalmente no nosso grande dia. Antes de nos cegarmos pelo afã de reproduzir o que há de tendência nas festas badaladas de casamento, é sempre bom pensar se aquilo vai faltar com respeito com você mesma ou com o seu relacionamento.

Desde crianças meninas são estimuladas a serem vaidosas, sob o pretexto de “arrumarem um namoradinho”. Dentro dessa bola de neve de opressão, mulheres crescem achando que só serão legitimadas se estiverem inseridas em um relacionamento (heterossexual, pra ser ainda mais específica), ou ainda se forem consideradas referenciais de de beleza através do olhar masculino. Não adianta ser inteligente, divertida, autêntica. Nem adianta ter todas essas características reconhecida por sua família e suas amigas. A sociedade vai te rebaixar sempre se seus elogios não forem proferidos por homens.

Infelizmente não é novidade para mulheres gordas ouvirem a frase “nenhum homem vai te querer gorda desse jeito”, como se esse fosse o único objetivo de nossas vidas. O que acontece é que muitas vezes somos levadas a acreditar nisso, e acabamos confundindo respeito, amor e confiança com migalhas de homens que não estão realmente interessados no que a gente é de verdade.

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Esse post vai te ajudar a identificar um cara fetichista e te alertar a manter o máximo de distância possível.

1 – Todas as ex (ficantes, namoradas, mulheres, crushes) dele eram gordas

“Ah, Mari, é questão de gosto”. A gente sabe que esse papo de gosto faz parte da construção social. Um relacionamento sólido não deveria se basear nas características físicas do companheiro, até porque isso é completamente mutável. Ou seja, o cara que reclama caso você decida emagrecer e só te aceita sob a condição de você ser gorda. Olhos bem abertos!

2 – Ele se orgulha de estar com uma mulher gorda e usa isso como token* para dar pitaco no feminismo

Uma das lutas dentro do feminismo é a que dá plena autonomia à mulher para que ela seja o que quiser, inclusive com relação ao seu corpo. O feminismo ainda é super gordofóbico e com pouquíssimos recortes, logo, o fetichista vai achar que, por ter uma namorada gorda, ele pode falar por ela (e quase sempre fala muita merda).

*Token é quando você se apropria de uma minoria que não faz parte da sua vivência para justificar, defender ou explicar o seu ponto de vista.

3 – Ele acha que estar ao seu lado é um favor que te faz

Você tem que agradecê-lo diariamente por estar ao seu lado. Ele vive deixando claro que se não fosse ele, você estaria perdida e sem rumo, e, claro, sem um relacionamento “decente”. Bate no peito e se gaba para os amigos, age como se estivesse fazendo algo extraordinário em estar com você, afinal, se não fosse ele, você provavelmente estaria sozinha e frustrada. Foge, amiga!

 

Vale a pena sustentar um relacionamento com um tipo desse somente em nome de ser validada? Não é muito mais firme reconhecer que você não merece e não precisa estar no convívio de um homem assim. Se um cara quer ter total controle sobre a estética do seu corpo, muito provavelmente ele desejará controlar suas amizades, seus hobbies e sua personalidade.

Depois de muito planejar e orçar, falta exatamente um ano para o meu casamento. Embora muita gente diga que não tem nada a ver comigo, a festa de casamento é tipo um sonho de criança. Vejo toda uma mística no vestido branco escondido a sete chaves do noivo, no bolo lindo na mesa, no brinde do casal com os padrinhos… Não sei explicar, mas é algo que eu sempre sonhei. Como ando muito empolgada com os preparativos, provavelmente falarei bastante deste tema por aqui no próximo ano, haha.

Hoje eu começo por aquele que é um bicho de sete cabeças para várias mulheres: o vestido. É certo que em toda banca de jornal, ou mesmo em uma rápida pesquisa no Google, achamos todas as tendências e/ou modelagens desejadas, mas… e quando não achamos o vestido que sonhamos fotografado em corpos que pelo menos lembrem o nosso?

“Eu vou me casar. Vou me casar usando pijamas” 
 
É com muita alegria que trago modelos de vestidos em vários estilos, alguns em tamanho plus size e outros grandes. São apenas referências para vocês se inspirarem e deixarem de lado a paranoia com o próprio corpo, afinal, uma festa de casamento já traz preocupações demais por si só.

1) Moderno

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Sem medo de ser feliz, com uma modelagem mais justa na altura do tronco e a parte de baixo mais abertinha. Para dar um ar mais “tradicional”, a blogueira Callie Thorpe usou um super véu!
2) Clássico
 
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Justinho e com corte reto na altura dos seios e da cintura, com a saia em modelo evasê e provavelmente usando anáguas. Mudam os tecidos e as rendas, mudam as tendências para casamentos… mas esse modelo é sempre requisitado pelas noivas!
3) Retrô
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Confesso que fiquei balançada por esse modelo (mas escolhi um outro nada a ver com esse, vai entender rs). Acinturado, com a manga ombro a ombro e saia midi. Parece super atual, mas as luvas e o voilette (esse acessório no cabelo) deram um ar mais antiguinho e romântico.


4) Princesa

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Esse também é lindo, e nunca sai de moda. As noivas mais românticas sonham em casar usando um vestido com a área do colo e da cintura em renda, emendando numa super saia, naquele esquema “quanto mais volume, melhor”.
O que eu escolhi não tá por aqui (o boy também é leitor!), mas já tô procurando uma costureira que manje de (1) corpos gordos e (2) noivas, para colocar em prática o vestido dos meus sonhos!

Eu não fui uma criança gorda, e só me dei conta disso quando comecei a entender melhor a militância gorda. Eu era uma criança grande, é verdade, era mais alta que as outras, e, por ter menstruado aos nove anos meu corpo se transformou muito cedo. A cada visita na casa de parentes eu ouvia que estava “gordinha”, num tom meio que de reprovação. Ficava triste e constrangida com aquilo, sem nem saber o significado direito, mas, pelo tom que esse tipo de comentário era feito, eu já sabia que não parecia algo bom.
Alguns anos se passaram, e agora não aturo comentários sobre meu corpo vindo de ninguém. Claro que existem maneiras para responder diversos tipos de pessoa – eu, por exemplo não respondo à minha vó do mesmo jeito que respondo a, sei lá, um tio distante -, mas é importante deixar claro que a maturidade me trouxe isso.

O que andam fazendo com as crianças em matérias jornalísticas e programas de TV em geral é de uma crueldade sem tamanho. Na nova temporada do programa ‘Socorro, meu filho come mal!’, do GNT, uma das personagens da nova temporada é Maria Clara, uma menina de nove anos que está “acima do peso”, segundo Gabriela Kapim, a nutricionista. Eu vejo apenas uma menina maior – tanto na estatura, como no peso – que as outras crianças. No episódio em que Maria Clara era protagonista, Kapim viu que a menina tinha um alto consumo de alimentos industrializados e comia em grandes porções também. Acho curioso o fato do “comer demais” ser um problema apenas para a criança gorda, enquanto a questão das crianças magras é o fato delas não comerem o suficiente. Mas o que mais me chocou foi a mãe explicando a razão da inscrição da filha no programa. Na escola, Maria Clara escreveu uma cartinha para o menino que gostava, e foi ridicularizada, por ser feia, gorda e “ter o cabelo feio” – mostrando que crianças, além de reproduzirem misoginia e gordofobia, reproduzem racismo. A mãe chorava ao contar o episódio, mas infelizmente não se deu conta que a verdadeira culpada desta história tá longe de ser Maria Clara.
Enquanto isso, Kapim ressaltava as características intelectuais e artísticas da menina, mas a pentelhava pelas poucas aptidões físicas. O que Kapim não percebe é que a socialização de Maria Clara é prejudicada por crianças que segregam e que reproduzem a gordofobia que provavelmente rola em suas casas. Aliás, Kapim, focar no emagrecimento de Maria Clara para que ela adote uma alimentação mais saudável também é violento, viu?

Ontem, no Fantástico, um quadro falava de uma pesquisa feita sobre obesidade (odeio essa nomenclatura) entre adolescentes brasileiros. Pais preocupados com a quantidade de comida ingerida pelos filhos e pelo bullying sofrido por eles na escola, buscaram ajuda com especialistas. Pelos depoimentos, a inquietação dos pais era um misto de preocupação com a alimentação dos adolescentes, mas a gordofobia também estava entranhada ali. Para vocês terem uma ideia, uma mãe  trancou a filha no próprio quarto porque ela aprendeu a fazer leite condensado caseiro. Se isso não é violento e traumático para quem ainda está em formação de juízo de valores, eu não sei mais o que é. Para minha surpresa, todos os especialistas pediam aos pais que parassem de destacar emagrecimento no processo de reeducação alimentar, pois a cobrança pode acatar no efeito inverso e acabar por desenvolver ansiedade e até compulsão alimentar.

criancasgordas2     Outra criança também tendo sua alimentação controlada com foco no emagrecimento, em outra temporada do mesmo programa.

O fato é, patologizar uma característica física de uma criança e cobrá-la em excesso vai criar uma série de adultos infelizes e frustrados, além de gordofóbicos. Resta pensar se é esse tipo de sociedade que a gente quer para os nossos filhos, sobrinhos etc.