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Comportamento

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É tão certo quando 2+2 = 4. Basta visitar aquele parente distante e tirar mais um pedaço da sobremesa, que lá vem a pergunta que não quer calar:

– Quer engordar mais?

Ao dar uma resposta malcriada (meu caso) ou ficar chateada, logo a pessoa vê que falou besteira e tenta consertar:

– Eu só tô preocupado com a sua saúde, as pessoas gordas estão morrendo de hipertensão/diabetes/artrose (insira aqui qualquer outra doença).

Esse é um discurso perigosíssimo, seletivo, e muitas vezes é um disfarce para a gordofobia. É claro que quem te quer bem vai se preocupar com a sua saúde e seu bem-estar, mas a distinção de falas é muito clara. Basta observar aquela prima que fuma que nem chaminé, ou a prima que tem uma alimentação regada a biscoito e refrigerante . Se forem magras, dificilmente vai ter gente preocupada com a saúde delas. Mas a gorda? Tem que tomar cuidado, um pedaço a mais de pudim pode fazer a gorda explodir, que nem Dona Redonda.

Após o segundo brigadeiro do aniversário do priminho

“Ah, mas o Brasil é o quinto país com mais obesos no mundo”.

Jura? Seguem outros dados, então: O Brasil é o país vice-líder no consumo de cocaína no mundolidera o ranking mundial de cirurgias plásticas por estética e é o quinto país que mais consome bebida alcoólica na América Latina. Mas claro, para muitas pessoas, inclusive formadores de opinião, quem precisa de atenção especial são os gordos. A obesidade é o mal do mundo moderno. Longe de mim querer incitar uma batalha de gordos x magros, mas por que não vejo esse tipo de preocupação com quem faz dietas super restritivas? Por que o distúrbio alimentar quase sempre passa batido?

Porque ser gordo é feio. Porque o mundo não é feito para os gordos, basta olhar as catracas de ônibus, as lojas de grife, os assentos nos aviões. Ser gordo é sinônimo de não se cuidar, de se alimentar mal, de não respeitar o próprio corpo. Dizem por aí que o corpo é templo sagrado. Mas só os magros, porque de sagrado, o corpo gordo não tem nada. É sujo, é nojento, é relapso.

E o que acontece quando vêem uma gorda que não fala de dietas, não se lamenta pela sua condição física, é empoderada e ajuda mulheres a cultivarem autoestima? É acusada de. Tudo bem usar no pain, no gain como lema, tudo bem reforçar a ideia de que somente um determinado tipo de corpo é perfeito,  mas aconselhar os leitores a se amarem, independente de números na balança é quase um crime. Crime de apologia ao sobrepeso e à obesidade.

Não, meus caros. Eu faço apologia ao amor próprio, ao cuidado com o próprio bem-estar. É claro que eu sei que a obesidade é fator de risco para outras doenças, assim como o uso de drogas (e aí incluo álcool e cigarro), a falta de sono, o excesso de intervenções estéticas, o estresse, a má alimentação – que vejam só, não é exclusividade de gordos. Mas o amor próprio, a vontade de viver, faz com que a gente se cuide, deseje estar bem, viver bem, ter bons hábitos. O zelo com o corpo vai muito além de passar horas na academia em busca de um abdômen tanquinho, ou negar aquela pizza com os amigos no sábado.

Como diz a música, “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”.

Se goste, se cuide. Independente de quanto a balança marca.

Esbanjando saúde, beijos

Sempre curti revistas. Aprendi a ler com os gibis da Turma da Mônica, depois fui para as adolescentes (Capricho, Atrevida, Todateen, quem nunca?), e, hoje curto muitos títulos diferentes. Trip, Galileu, Superinteressante… Mas preciso dizer, meu guilty pleasure são as “revistas femininas”. Consigo separar o joio do trigo e nem ligo para as tosqueiras do tipo “como enlouquecer seu homem na cama”, mas gosto de ver o que tá rolando nas passarelas, o que é tendência. Gosto também das entrevistas e de algumas seções específicas (leiam a “Eu, leitora”, da Marie Claire), mas tem uma coisa que me incomoda muito em revistas focadas no público feminino: a falta de representatividade. Raramente vemos editoriais de moda inclusivos, com modelos diferenciadas daquilo que estamos tão acostumadas – e cansadas – de ver.

Fiz uma pesquisa árdua e achei 5 capas de revistas que remaram contra a maré e colocaram mulheres bem diferentes das que geralmente estampam as capas das publicações de destaque. Lembrando que não coloquei revistas especializadas no segmento plus size, nem as de novelas, pois a ideia é falar sobre publicações que, ao menos uma vez, ousaram sair do lugar comum.


Vamos à lista?

Ju Romano na capa da Elle
A Ju é a blogueira plus size mais famosa do país e promoveu um break the internet ao aparecer coberta somente por um lençol em um editorial muito bacana sobre autoaceitação. Ju foi uma das capas da edição especial de aniversário  da revista online.

Fluvia Lacerda na Trip
A Fluvia é a Gisele Bundchen do mundo plus size. Como as marcas brasileiras ainda resistem em produzir coleções all sizes, Fluvia representa o Brasil nas passarelas lá fora, mais democráticas. A top falava sobre padrões de beleza impostos, e foi capa da Trip usando uma lingerie maravilhosa! 



Preta Gil na Nova

Pretinha ama causar, nada contra, acho ótimo! O que eu também acho ótimo é ver uma revista como a Nova, conhecida por cultuar dietas para emagrecer e corpos magros, colocar uma mulher gorda e negra como estrela da capa de uma de suas edições. Deve ter sido um mês difícil para os inimigos.


Gaby Amarantos na capa da TPM

Confesso que não entendi muito quando Gaby entrou no Medida Certa, do Fantástico. Ela chegou ao estrelato do jeitinho que era, e valorizando o que realmente importa numa cantora: o talento e o carisma. Nessa capa, antes do medida certa, a cantora posou e participou de uma matéria que falava sobre a importância da valorização de todos os tipos de corpos.


Amanda Bingson na capa da ESPN Body Issue

Eu não queria nenhuma listar nenhuma revista gringa nessa postagem, mas… Quão representativo é ter uma atleta gorda na capa de uma revista de esportes? Total derruba o mito de que gordos não se exercitam, ou são preguiçosos. Aos 96kg, Amanda é especialista em lançamento de martelo e uma das grandes apostas dos Estados Unidos para os Jogos Olímpicos de 2016.



Gostaram das capas? Vocês lembram de mais algumas em que se sentiram representadas? Contem pra mim lá na página do blog no Facebook!
Durante muito tempo eu achava que estava solteira por conta do meu corpo fora dos padrões (eu me considerava fora, hoje vejo que sou ALÉM) impostos pela sociedade. Eu tinha muitos amigos homens, todos me adoravam, e cansei de ouvir o chavão “você não faz o meu tipo”, ou “não tenho preconceito, mas não me sinto atraído por gordas”. Achava mesmo que o problema desse role era comigo, que estava gorda, afinal, ninguém se sentiria atraído por mim “daquele jeito”.
Ora, ora.
Aos poucos, fui descobrindo que gosto é construção social. Desde cedo somos influenciados a ver beleza em quem está na TV, nas capas de revistas, outdoors. Ainda crianças, meninas tem como objetivo idealizam ser como a mocinha da novela, magra, loura, sensual. Ninguém se aproxima da gorda, a não ser que seja pra cumprir uma aposta. Crescemos acreditando que a melhor companhia para um gordo é a comida, que pessoas atléticas/magras não se interessam afetivamente por quem tem um biotipo físico diferente dos dela. Eu cresci acreditando nisso.
Cresci acreditando que meu papo, meu jeito na cama e minha inteligência tinham que ser acima da média para compensar o fato de ser gorda. De repente, daria a sorte de alguém se aproximar de mim por eu ser gente boa, ou poderia “prender” um cara por ser incansável no sexo. 
Com pensamento eu fui ladeira abaixo nos meus relacionamentos. Namoro abusivo, peguete às escondidas – o cara me levava pro bar, sentávamos na mesa do fundo, e quando íamos embora o cara simplesmente não me dava a mão-, fuck buddy que transava comigo, mas namorava mulheres magras. Pior que eu deixar fazerem isso comigo, é alguém ter a cretinice de fazê-lo.
Então um dia eu conheci um cara. 
Esse cara era educado, amigo, encantador. Eu estava convicta que seguiria na vida ciscando aqui e ali sem envolvimento amoroso, e esse cara passou uma noite inteira olhando nos meus olhos, olhando além do meu tamanho. Inicialmente eu desconfiei, afinal, o que um cara como ele – que tinha, além de um sorriso perfeito, gominhos no abdômen- ia querer com uma gorda que mal fechava uma calça 46? Acontece que ele viu algo em mim que eu não tinha descoberto, e me ajudou durante meu processo de autoaceitação. Ele colaborou para que eu visse que sou muito além de números – na balança ou na etiqueta de roupas -, e, mais que isso, hoje ele é um grande incentivador desse blog, onde eu escrevo com o objetivo de empoderar mais e mais mulheres que porventura se sintam pra baixo.
Esse olhar 
O que eu quis dizer com esse post? 
Por favor, não deixem que o mau caratismo de algumas pessoas faça com que você se sinta diminuída. Você, como qualquer outra pessoa, é merecedora do tão sonhado “final feliz”, seja ele qual for. Abra seu coração e sua mente, acredite na ideia de que o amor vai além de aparência física, seja exatamente quem você é. Antes de querer agradar qualquer outra pessoa, lembre-se de você, de estar confortável consigo mesma. O amor começa em cada um de nós, e a melhor história que podemos viver é com nós mesmos. Sei que esse último parágrafo pareceu retirado de um livro de auto-ajuda, mas não dá pra fugir do clichê quando falamos do mais nobre dos sentimentos, o amor.
Foto tirada pela maravilhosa Jéssica, na nossa festa de noivado
Na última quarta-feira, compartilhei no meu perfil do Facebook uma situação bizarra que passei durante uma transmissão no trabalho. Segue a publicação para vocês entenderem melhor:

O Thales, meu parceiro de trabalho, escreveu um artigo para uma revista no Medium sobre esse caso.

Clique aqui pra ler as maravilhas que o Thalão falou sobre mim :p
Mas hoje eu não vou falar sobre a gordofobia que rola nos estádios, nas redações, na nossa sociedade. Hoje eu não quero medir a pequenez de quem acha que constranger uma mulher – que pra piorar, estava trabalhando- deveria ser elogio.
Este post é sobre as mensagens de apoio que eu recebi. Eu, que tive receio de escrever e parecer estar reclamado do que seria um “ônus” da profissão que escolhi. Eu, que por duas vezes internalizei as lágrimas para não chorar na frente de desconhecidos enquanto rolava o show de horror.
Após publicar no Medium, o Thales compartilhou no Twitter. E no Facebook. E eu compartilhei nas páginas feminijas, principalmente as que falam de imprensa e mídia. Amigos, a minha fala tomou um alcance que eu jamais imaginei, e eu recebi mensagens, desabafos, agradecimentos, pedidos de desculpa. De estudantes, de professoras, de jornalistas. Gordas e magras. Do Piauí à Porto Alegre, e até de Buenos Aires. Mulheres que são frequentemente silenciadas nos estádios de futebol, nas redações em que trabalham, na família, em sala de aula. Infelizmente, eu não estou sozinha nessa.
Me agradeceram pela coragem de expor um problema presente nos nossos estádios, ringues, nos fóruns de games, escritórios de engenharia. Desabafaram porque já não aguentam mais o preconceito de gênero. 
O que eu vou falar é clichê, mas lá vai: lugar de mulher é onde ela quiser. Mulher nenhuma merece ser agredida ou assediada, seja no horário de trabalho ou lazer. Mulher nenhuma merece ser invadida por seres que se acham superiores pelo simples fato de terem um pênis.
Que o que eu passei sirva para empoderar muitas outras mulheres. Não há nada de errado em ser gorda. Não há nada de errado em ser gorda e se considerar maravilhosa – acredite, você é. 
Segue o jogo. E a luta.

Velada ou escancarada, a gordofobia é um fato real na nossa sociedade. Ser gorda é enfrentar uma luta diária para quebrar barreiras e não se aborrecer com as pessoas, inclusive as que amamos. A situação é ainda mais agravante quando escolhemos uma profissão em que se importam demais com a imagem – falo isso porque sou jornalista e sei o quanto a aparência física é muitas vezes fator determinante para uma colocação no mercado. No pacote gordofóbico vem a ideia de que gordas são “domínio público”, e podem ouvir qualquer tipo de groselha alheia. Nesse post, listarei cinco perguntas que toda gorda já deve ter ouvido pelo menos uma vez, acompanhadas de uma “resposta imaginária” – que pode servir se você estiver mau humorada ou se a pessoa for muito sem noção- e uma resposta mais amável. Lembrando que ninguém tem a obrigação de ser amável enquanto sofre opressão, então escolha a resposta que mais te agrada e reverta o jogo, deixando o intrometido em posição bem desconfortável.

                                        Por favor, parem                                          

1- Já tentou fazer dieta? 
Essa é de praxe. Você tá numa festa, num almoço de família, na academia, na faculdade, na fila do banco, em marte… Sempre tem uma criatura que mal te conhece e pergunta se você já experimentou fazer dieta da sopa, da lua, da proteína, do abacaxi, molecular. O senso comum realmente acredita que todas as pessoas gordas comem em excesso. Sem contar que esse assunto é gatilho pra muita gente, que sofreu ou ainda sofre transtornos alimentares por acreditar que dieta é solução para ser feliz.

Resposta imaginária: Não, prefiro fazer sexo / unhas / cocô /
Gordamável: Já, mas comer é um dos prazeres da vida, e pra mim não vale a pena abrir mão disso.

Melhor dieta

2 – Você não tem medo de prejudicar sua saúde? 
Claro exemplo de gordofobia velada. A pessoa disfarça o preconceito dela com uma inexistente preocupação com a saúde da gorda. Na cabeça das pessoas, uma pessoa gorda, com bochechas, cintura, quadris e coxas salientes só pode estar doente. Com o mínimo de esforço ou qualquer pesquisa rápida no Google dá pra saber que ser gorda é muito diferente de ser doente. Além do mais, por que ninguém fala de pessoas magras que sofrem com hipertensão, diabetes, trombose, e outras disfunções que são conhecidas como “doenças de gordos”?

Resposta imaginária: Não, inclusive preferia estar morta a ter que aturar gente se metendo na minha vida.
Gordamável: Desculpa, mas prefiro deixar pra debater sobre meu estado de saúde com meu médico.

Em que posso lhe ajudar?

3 -Como você consegue comprar roupa?
Sei que parece surreal na cabeça de algumas pessoas, mas gordas também adoram estar na moda e se sentir linda e confortável. A maioria das lojas, principalmente as populares, tem como tamanho máximo o 46 ou 48, deixando um monte de mulheres à deriva, no maior estilo “vocês que se virem”. As gordas se viraram, e hoje em dia tem um monte de lojas legais que são “all sizes”, principalmente online. Algumas são bem carinhas, mas acho que dá pra dizer que tem vitrines para todos os gostos e bolsos. Ainda assim, tem gente que se espanta ao ver uma mulher gorda estilosa e cheia de autoconfiança, podendo escolher o que que usar ao invés de ter que usar roupa que parece capa de sofá da vó.

Resposta imaginária: Na verdade eu compro no brechó do zoológico, eu e o elefante temos o mesmo estilo!
Gordamável: Do mesmo jeito que você, ué. Sabia que a numeração de roupas vai além do 46?

Nada básica

4 -Não rola vergonha do corpo na hora do sexo?
Essa geralmente vem gente que é super próxima. Aliás, só quem faz parte de alguma minoria sabe que pessoas mais íntimas de nós conseguem nos magoar a ponto de rasgar o coração, mas nem percebem. Rola um consenso de que é FEIO ser gorda -já o homem gordo é CHARMOSO-, e desde cedo somos levadas a odiar nosso corpo, que é lindo como todos os outros. E se é lindo como todos os outros, por que deveríamos ter vergonha?

Resposta imaginária: Não rola vergonha na hora de fazer esse tipo de pergunta?
Gordamável: Vergonha por que, se meu corpo é maravilhoso?

Aceita que dói menos

5 – Vai comer mais um pedaço?
Frequentemente vem com um comentário anexo: “Você precisa emagrecer”. Pizza, torta, bolo, chocolate, ou qualquer outra coisa que seja calórica e deliciosa. É uma droga quando querem te fazer acreditar que você, por ser gorda, merece menos que qualquer outra pessoa. Pior ainda quando você tá na mesa, com mais um monte de gente, e vem aquela criatura indelicadíssima pontuando que você está gorda, como se você não tivesse espelho em casa.

Resposta imaginária: Vou comer mais quantos eu aguentar.
Gordamável: Sim, tá uma delícia. Bobo é quem se priva!

Eike delícia!
Sei que é chato, que magoa e que às vezes a gente perde a confiança própria ao ouvir absurdos, mas é importante sempre lembrar que não há nada de errado em ser gorda, e principalmente, em se amar nessa condição. Nossos corpos são lindos do jeitinho deles, e qualquer mudança deve ocorrer de acordo com a nossa própria vontade.