Nas últimas semanas eu vim publicando sobre um evento super bacana que aconteceu ontem aqui no Rio de Janeiro: o Big Bazar de verão! Organizado pela multitask Babu Carreira – a mina é atriz, blogger, vlogger, pole dancer E modelo -, o Big Bazar contou vários stands de lojas queridinhas das It gordas e algumas ações para entreter os frequentadores, como uma batalha de looks entre blogueiras, sorteios e rodas de conversas com temas ligados às mulheres gordas.
Ensaiei um século antes de escrever esse post, até porque, sendo bem sincera, nem curti muito as fotos do ensaio. Tomei uns pedalas da vida essa semana, e acabei não indo pro pré-carnaval, mesmo já tendo comprado muitos acessórios que me permitirão ser outra pessoa na festa da carne.
Em grupos de discussão sobre gordofobia no Facebook, essa semana surgiram várias meninas tímidas, com vergonha ou sem ideias de fantasias, se sentindo eclipsadas pelas amigas magras, e, por fim, querendo muitas dicas de como enfrentar o calor sendo gorda.
Em primeiro lugar: bota o corpo no sol. Sério, senta aqui, me lê, me entende. Você pode usar top, usar sutiã, usar cropped, usar blusa de alcinha ou tomara que caia, independente do tamanho dos seus braços, seios ou barriga. Pode também usar shortinho, hot pants, vestido curto e justo, se achar confortável. Eu sei que sempre toco nessa tecla, mas o maior enfrentamento que damos pra essa sociedade que julga e exclui mulheres gordas é o amor ao próprio corpo, a imposição dele. Sei também que não é fácil enfrentar os olhares, ouvir deboche, ofensa. Por isso, a minha dica é ir gradualmente se despindo desses conceitos velhos de “roupas pra gordas”, até se sentir completamente à vontade pra enfrentar gente babaca pela rua.
O carnaval é uma época muito boa pra começar nesse processo, já que tá todo mundo preocupado em curtir o bloco e as festas e nem aí pra fantasia do outro. E quer saber? Eu odiava carnaval, de verdade. Até que vi que meu ódio era direcionado ao meu próprio corpo que não cabia em nenhuma daquelas fantasias ~sexies~, e que me faria passar MUITO calor com a quantidade de roupa que eu usava.
Hoje vim dar umas dicas de montação com acessórios que vendem em lojas de festas/fantasias. Você não precisa gastar uma fortuna pra um outfit que vai usar uma – no máximo duas – vezes ao ano, e ainda pode “ser” vários personagem durante a folia.
Vamos lá?
*Mágica*
Usei um macaquinho da Wear Ever e completei o look com uma gravatinha borboleta, cartola e uma piteira avulsa da fantasia de melindrosa, rs. Essa foi mais no improviso, quem vai usar é meu noivo. Eu serei a coelhinha que sai maravilhosa da cartola dele, haha.
*Unicórnio*
Postei essas fotos no meu Instagram e na página do blog no Facebook e todo mundo amou! Infelizmente ainda sou newbie na make up, quem me produziu, montou o arco e tirou a foto foi a minha prima. O que consigo explicar no meu nada-didático-modo é que preparamos a pele, passamos um primer de sombra, depois o desenho foi feito com sombras coloridas. Em cima do fosco das sombras, passamos manteiga de cacau e fomos cobrindo com o glitter. Estava pronta a make de unicórnio.
Usei saia de tule – vende nos comércios populares da vida e eu comprei duas e levei na costureira pra emendar uma na outra -, um cropped branco básico que comprei na Renner há séculos (mas vc pode cortar um camisetão que dá certo), e o chifre de unicórnio foi feito de papel cartão laminado e colado com cola quente numa tiara simples.
Com ou sem fantasia, o que importa é aproveitar bem o carnaval e respeitar os limites do seu corpo. Não esqueçam de beber muita água, principalmente nos intervalos entre uma cerveja e outra. Tá super quente, e, quanto mais hidratadas, mais saudáveis e dispostas estaremos pra curtir muito. Aproveitem!
Não sei se é a falta de “datas comemorativas” em agosto, mas setembro chegou com tudo para celebrações, digamos, peculiares. Segunda foi o esperado feriado da Independência, e na véspera comemorou-se o dia do sexo – espero que vocês tenham comemorado bastante, rs . Mas hoje no Facebook e em alguns portais da internet vi vários amigos e várias páginas compartilhando algo que eu nem sabia que existia: O dia do gordo.
Encerrando esse post no clima de #FatPride, uma selfie de biquíni pra desmistificar a lenda de que gordas só podem usar maiô:
Um dos assuntos que eu mais gosto de falar aqui é sobre representatividade. Raramente vemos mulheres fora dos padrões em destaque na mídia, e a minha intenção é trazer mais pra perto de nós alguns desses exemplos. Estreando a seção ‘Entre nós’, o blog recebe hoje a maravilhosa Mariana Xavier, que atualmente está na pele da sensual Claudete em I Love Paraisópolis. Hoje o papo é de Mari pra Mari!
Mariana Xavier: Sim. Já melhorou muito nesse sentido, mas o que eu continuo falando é que realmente ainda existe essa coisa de estereotipar o gordo como sendo engraçado. Acabam muitas vezes escalando pessoas gordas só quando o roteiro pede especificamente isso. Como a gorda que vai ser rejeitada, ou a gorda que é pegadora, é sempre em geral, associado ao estereótipo. Infelizmente não é algo que acontece só com os gordos. Acontece com os negros, com os orientais. As “cotas” que não são oficiais, mas que acabam existindo – até pra que o público compre aquela historia
Mari R: Tem também aquelas pessoas que aproveitam o “anonimato” que a internet dá para ofender e atacar os outros, principalmente quando é alguém fora dos padrões e que está aparentemente feliz do jeito que é. Como você lida com os haters?
Mari X: Eu fico muito triste. Mais do que com raiva, eu me preocupo com as gerações que vem por aí. As pessoas estão se alimentando de ódio, de diminuir o outro pra se sentirem melhor, e isso é muito louco. Tenho tentado exercitar a capacidade de abstração nessas horas. Tem muita coisa que eu leio e tenho vontade de responder, mas respiro fundo e penso “mariana, não adianta. Você vai se desgastar e a pessoa não vai mudar em 140 caracteres” (no caso do Twitter)
Mari R: A nossa sociedade costuma relevar e muitas vezes endeusar homens fora dos padrões, a barriguinha de chopp, o careca, o barbudão. Mas ainda existe o mito de que a mulher gorda é relaxada, não se cuida, não é vaidosa. Dentro disso tudo, a que você atribui essa cobrança mais pesada direcionada às mulheres?
Isso é cultural, a gente vive numa sociedade muito machista, crescemos durante todos esses anos com essa mentalidade distorcida de que o papel do homem é outro, ele não precisa ser bonito, cheiroso, saudável. Já com a mulher, a cobrança é maior. Infelizmente é uma cultura muito antiga e muito difícil de mudar. Do mesmo modo que rola também essa imagem distorcida que as pessoas tem de que o gordo fica o dia inteiro em casa sedentário agarrado com uma panela de brigadeiro. Ninguém pensa em quantos fatores podem ter feito uma pessoa engordar, na história que as pessoas carregam. Assisto um programa no Discovery e fico chocada com a quantidade de histórias em que as pessoas se tornaram obesas em função de traumas, abusos, e isso é muito triste, vai além do querer ou não estar gordo.
Mari R: Você está acostumada a postar seus looks nas suas redes sociais, e sempre tem um monte de menina perguntando de onde é. Para muitas, a surpresa é que você volta e meia tá usando modelitos de fast fashion, mostrando que as lojas estão mais atenta às mulheres fora dos padrões que a moda geralmente impõe. Como você vê esse nicho se expandindo?
Mari X: Há 10 anos as pessoas que vestiam acima do 46 não tinham o direito de ter estilo, o estilo era o que cabia, o que servia. Achavam que só porque uma pessoa engodou ela ficou cafona e você tem que se vestir de sofá, de cortina, capa de botijão de gás (risos). Eu fico muito feliz de mostrar pras pessoas que dá pra se vestir bem mesmo usando um número maior que o 46 e gastando pouco. Eu adoro fast fashion, conheço todas!
Além disso, ainda tem muita gente apegada às regras, ditaduras. Dizem que gordo não pode usar roupas justas, listras horizontais ou estampas. Eu amo rasgar essas regras, sabe? Comecei a ficar mais vaidosa e desenvolver um estilo de me vestir e virar referência a partir do momento em que eu abri a minha cabeça e resolvi experimentar coisas que eu jamais imaginei que fosse usar. Tenho 1,50m e já usei longo vermelho em festas.
Mari R: Você encoraja várias outras mulheres a se aceitarem e aumentarem a autoestima quando posta foto de biquíni, de shortinho, etc. Se sente responsável pelo empoderamento dessas mulheres?
É muito pretensioso dizer que sou responsável por um movimento, mas fico feliz com os depoimentos das pessoas que passaram a enxergar as coisas de outra maneira, principalmente quando me vêem fazendo exercícios e se sentem motivadas a fazerem também. A frase feita que eu mais repito é: “Não me orgulho de ser gorda. Me orgulho de saber que meu peso não mede meu valor”.
As pessoas entram numa de falar “Se você gosta de ser gorda, é por que encolhe barriga na foto? Poxa, qualquer pessoa quando vai tirar foto vai procurar o melhor ângulos. Se aceitar é você conhecer seu corpo, respeitar e saber que ele carrega a sua história de vida e isso não pode ser ignorado. Dentro disso você vai valorizar o que curte mais, disfarçar o que não gosta, tentar melhorar o que te incomoda.
Mari R: Que recado você deixaria para as leitoras do Da rua pra lua?
Meninas, se cuidem de dentro pra fora! Nenhuma ditadura é boa. Busquem o equilíbrio em tudo, pro corpo e pra alma. Procurem descobrir uma atividade que você goste de fazer, e faça por você em primeiro lugar, pra você se sentir bem. Pessoas tentando diminuir a gente sempre vão existir, mas a gente não pode deixar isso ser maior que o valor que a gente reconhece em nós mesmos. Se conhecer é a maior dica que eu posso deixar. Saber o seu valor, independente de “embalagem”.
É tão certo quando 2+2 = 4. Basta visitar aquele parente distante e tirar mais um pedaço da sobremesa, que lá vem a pergunta que não quer calar:
– Quer engordar mais?
Ao dar uma resposta malcriada (meu caso) ou ficar chateada, logo a pessoa vê que falou besteira e tenta consertar:
– Eu só tô preocupado com a sua saúde, as pessoas gordas estão morrendo de hipertensão/diabetes/artrose (insira aqui qualquer outra doença).
Esse é um discurso perigosíssimo, seletivo, e muitas vezes é um disfarce para a gordofobia. É claro que quem te quer bem vai se preocupar com a sua saúde e seu bem-estar, mas a distinção de falas é muito clara. Basta observar aquela prima que fuma que nem chaminé, ou a prima que tem uma alimentação regada a biscoito e refrigerante . Se forem magras, dificilmente vai ter gente preocupada com a saúde delas. Mas a gorda? Tem que tomar cuidado, um pedaço a mais de pudim pode fazer a gorda explodir, que nem Dona Redonda.
“Ah, mas o Brasil é o quinto país com mais obesos no mundo”.
Jura? Seguem outros dados, então: O Brasil é o país vice-líder no consumo de cocaína no mundo, lidera o ranking mundial de cirurgias plásticas por estética e é o quinto país que mais consome bebida alcoólica na América Latina. Mas claro, para muitas pessoas, inclusive formadores de opinião, quem precisa de atenção especial são os gordos. A obesidade é o mal do mundo moderno. Longe de mim querer incitar uma batalha de gordos x magros, mas por que não vejo esse tipo de preocupação com quem faz dietas super restritivas? Por que o distúrbio alimentar quase sempre passa batido?
Porque ser gordo é feio. Porque o mundo não é feito para os gordos, basta olhar as catracas de ônibus, as lojas de grife, os assentos nos aviões. Ser gordo é sinônimo de não se cuidar, de se alimentar mal, de não respeitar o próprio corpo. Dizem por aí que o corpo é templo sagrado. Mas só os magros, porque de sagrado, o corpo gordo não tem nada. É sujo, é nojento, é relapso.
E o que acontece quando vêem uma gorda que não fala de dietas, não se lamenta pela sua condição física, é empoderada e ajuda mulheres a cultivarem autoestima? É acusada de. Tudo bem usar no pain, no gain como lema, tudo bem reforçar a ideia de que somente um determinado tipo de corpo é perfeito, mas aconselhar os leitores a se amarem, independente de números na balança é quase um crime. Crime de apologia ao sobrepeso e à obesidade.
Não, meus caros. Eu faço apologia ao amor próprio, ao cuidado com o próprio bem-estar. É claro que eu sei que a obesidade é fator de risco para outras doenças, assim como o uso de drogas (e aí incluo álcool e cigarro), a falta de sono, o excesso de intervenções estéticas, o estresse, a má alimentação – que vejam só, não é exclusividade de gordos. Mas o amor próprio, a vontade de viver, faz com que a gente se cuide, deseje estar bem, viver bem, ter bons hábitos. O zelo com o corpo vai muito além de passar horas na academia em busca de um abdômen tanquinho, ou negar aquela pizza com os amigos no sábado.
Como diz a música, “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”.
Se goste, se cuide. Independente de quanto a balança marca.