Ainda sou novata nessa coisa de blog de moda, mas algumas blogueiras criaram uma hashtag que promete mostrar que disputa entre mulheres ta mais que demodé – a #juntassomosmaiores.
Querida Izabel,
Chegou o dia, é hoje. Acompanhando sua participação no Masterchef Brasil desde o início dessa edição, posso apostar que você não esperava chegar à final. Mas chegou, Izabel. E conquistou uma série de pessoas que se identificam com essa sua personalidade sui generis, além de te acharem uma excelente cozinheira.
Sabe, Izabel, eu me identifico muito com a sua figura. Não só por ser gorda, mas pelos adjetivos que essa característica me trouxe, e talvez tenha acontecido o mesmo com você. Esse excesso de justificativas antes mesmo de um questionamento, essa insegurança mesmo diante de um feito maravilhoso, a cozinha como forma de agrado e afeto. Eu sempre quis muito que as pessoas gostassem de mim, Izabel. Apesar de eu ser gorda e insegura.
O tempo foi passando e eu aprendi a administrar melhor as minhas emoções, Izabel. Claro, digo isso porque não estou em um reality show onde minha carreira pode dar uma guinada. Aliás, Izabel, eu também dei uma guinada na minha vida profissional. Também falei “é agora ou nunca” quando eu tinha 25 anos e resolvi ingressar em uma outra faculdade. Foi libertador, como eu vejo que está sendo pra você.
Eu gostaria de não entender porque você tem tantos haters, Izabel. Logo você, que defendeu com unhas e dentes a permanência da sua melhor amiga no programa – e que nada teve a ver com a saída dela. Logo você, que não pensou duas vezes em ajudar o cara que ficava falando mal e praguejando você, sem entender que o Masterchef é uma competição. Logo você, que expõe essas características tão presentes na personalidade da maioria das pessoas. Insegurança, nervosismo, fraqueza… Se identificar com Raul talvez seja muito mais fácil, mas é mais honesto admitir que #SomosTodosIzabel em alguns momentos da vida. Além disso, querida, é difícil para algumas pessoas aceitar uma mulher gorda que se sai tão bem no que se propõe a fazer.
Por isso, Izabel, minha torcida é sua. Pela sua trajetória ali dentro, vencendo seus próprios fantasmas até chegar à final. Pela sua lealdade aos amigos que fez durante as gravações. Pela sua entrega, carinho e respeito com a comida que preparava. Embora você não precise cozinhar para que as pessoas gostem de você, moça. Você só precisa… ser.
[[Contém spoiler]]
Ok, eu sei que o filme é de 2012. Sei também que a continuação – A Escolha Perfeita 2- já tá em cartaz nos cinemas brasileiros e que algumas leitoras daqui já devem ter visto, mas graças a um domingo entediante eu encontrei esse título no Netflix e decidi dar chance a uma comédia boba e leve para começar bem a semana.
A Escolha Perfeita é um filme típico norte-americano que tem uma faculdade como cenário, mas a última coisa que os personagens fazem é assistir aula. Aliás, acho que esse bateu o recorde, com um total de ZERO cenas em sala de aula. A história inicialmente gira em torno de Beca, que sonha em ser DJ, mas é obrigada pelo pai a ir pra faculdade e se enturmar, e escolhe a rádio e o grupo de cantoras à capela para socializar. Como a vida social norte-americana normalmente gira em torno da competição – vivi nos EUA durante quase dois anos, falo com base no que observei lá -, o grupo em que Beca entra está se reestruturando após um vexame e precisa de qualquer menina minimamente afinada e que esteja interessada em cantar. Obviamente as calouras que estão nos padrões não querem atrelar a imagem delas à um grupo que deu vexame, daí começam a aparecer as minas que formam o novo time das Bellas. Tem representatividade negra, lésbica, nerd, asiática, mas, obviamente, falarei aqui da personagem que salta aos meus olhos, e, provavelmente das leitoras desse blog: Fat Amy
O final do filme é óbvio e clichê, moral da história é que ninguém é loser, que todo mundo tem o seu valor, independente da “casca”, e uma simples lida na resenha do filme já faz você sacar o final, inclusive as lições que ele passa. Mas a maior das tiradas, claro, vem dela, que – vejam só vocês-, não se chama Fat Amy, e sim, Fat Patrícia:
Alguém aí já assistiu a esse filme? O que achou? Confesso que tô curiosa para ver a continuação, aposto que Fat Amy está ainda mais maravilhosa!
Para quem ainda tá naquela busca que parece não ter fim, procurando uma atividade física prazerosa e que ajude no condicionamento e resistência, hoje eu trago aqui uma outra opção. A dança e suas variáveis são ótimas alternativas! Zumba, dança de salão, jazz… Mas hoje o papo é sobre uma dança que além de te deixar fitness ainda vai exercitar sua sensualidade: O pole dance.
Um dos assuntos que eu mais gosto de falar aqui é sobre representatividade. Raramente vemos mulheres fora dos padrões em destaque na mídia, e a minha intenção é trazer mais pra perto de nós alguns desses exemplos. Estreando a seção ‘Entre nós’, o blog recebe hoje a maravilhosa Mariana Xavier, que atualmente está na pele da sensual Claudete em I Love Paraisópolis. Hoje o papo é de Mari pra Mari!
Mariana Xavier: Sim. Já melhorou muito nesse sentido, mas o que eu continuo falando é que realmente ainda existe essa coisa de estereotipar o gordo como sendo engraçado. Acabam muitas vezes escalando pessoas gordas só quando o roteiro pede especificamente isso. Como a gorda que vai ser rejeitada, ou a gorda que é pegadora, é sempre em geral, associado ao estereótipo. Infelizmente não é algo que acontece só com os gordos. Acontece com os negros, com os orientais. As “cotas” que não são oficiais, mas que acabam existindo – até pra que o público compre aquela historia
Mari R: Tem também aquelas pessoas que aproveitam o “anonimato” que a internet dá para ofender e atacar os outros, principalmente quando é alguém fora dos padrões e que está aparentemente feliz do jeito que é. Como você lida com os haters?
Mari X: Eu fico muito triste. Mais do que com raiva, eu me preocupo com as gerações que vem por aí. As pessoas estão se alimentando de ódio, de diminuir o outro pra se sentirem melhor, e isso é muito louco. Tenho tentado exercitar a capacidade de abstração nessas horas. Tem muita coisa que eu leio e tenho vontade de responder, mas respiro fundo e penso “mariana, não adianta. Você vai se desgastar e a pessoa não vai mudar em 140 caracteres” (no caso do Twitter)
Mari R: A nossa sociedade costuma relevar e muitas vezes endeusar homens fora dos padrões, a barriguinha de chopp, o careca, o barbudão. Mas ainda existe o mito de que a mulher gorda é relaxada, não se cuida, não é vaidosa. Dentro disso tudo, a que você atribui essa cobrança mais pesada direcionada às mulheres?
Isso é cultural, a gente vive numa sociedade muito machista, crescemos durante todos esses anos com essa mentalidade distorcida de que o papel do homem é outro, ele não precisa ser bonito, cheiroso, saudável. Já com a mulher, a cobrança é maior. Infelizmente é uma cultura muito antiga e muito difícil de mudar. Do mesmo modo que rola também essa imagem distorcida que as pessoas tem de que o gordo fica o dia inteiro em casa sedentário agarrado com uma panela de brigadeiro. Ninguém pensa em quantos fatores podem ter feito uma pessoa engordar, na história que as pessoas carregam. Assisto um programa no Discovery e fico chocada com a quantidade de histórias em que as pessoas se tornaram obesas em função de traumas, abusos, e isso é muito triste, vai além do querer ou não estar gordo.
Mari R: Você está acostumada a postar seus looks nas suas redes sociais, e sempre tem um monte de menina perguntando de onde é. Para muitas, a surpresa é que você volta e meia tá usando modelitos de fast fashion, mostrando que as lojas estão mais atenta às mulheres fora dos padrões que a moda geralmente impõe. Como você vê esse nicho se expandindo?
Mari X: Há 10 anos as pessoas que vestiam acima do 46 não tinham o direito de ter estilo, o estilo era o que cabia, o que servia. Achavam que só porque uma pessoa engodou ela ficou cafona e você tem que se vestir de sofá, de cortina, capa de botijão de gás (risos). Eu fico muito feliz de mostrar pras pessoas que dá pra se vestir bem mesmo usando um número maior que o 46 e gastando pouco. Eu adoro fast fashion, conheço todas!
Além disso, ainda tem muita gente apegada às regras, ditaduras. Dizem que gordo não pode usar roupas justas, listras horizontais ou estampas. Eu amo rasgar essas regras, sabe? Comecei a ficar mais vaidosa e desenvolver um estilo de me vestir e virar referência a partir do momento em que eu abri a minha cabeça e resolvi experimentar coisas que eu jamais imaginei que fosse usar. Tenho 1,50m e já usei longo vermelho em festas.
Mari R: Você encoraja várias outras mulheres a se aceitarem e aumentarem a autoestima quando posta foto de biquíni, de shortinho, etc. Se sente responsável pelo empoderamento dessas mulheres?
É muito pretensioso dizer que sou responsável por um movimento, mas fico feliz com os depoimentos das pessoas que passaram a enxergar as coisas de outra maneira, principalmente quando me vêem fazendo exercícios e se sentem motivadas a fazerem também. A frase feita que eu mais repito é: “Não me orgulho de ser gorda. Me orgulho de saber que meu peso não mede meu valor”.
As pessoas entram numa de falar “Se você gosta de ser gorda, é por que encolhe barriga na foto? Poxa, qualquer pessoa quando vai tirar foto vai procurar o melhor ângulos. Se aceitar é você conhecer seu corpo, respeitar e saber que ele carrega a sua história de vida e isso não pode ser ignorado. Dentro disso você vai valorizar o que curte mais, disfarçar o que não gosta, tentar melhorar o que te incomoda.
Mari R: Que recado você deixaria para as leitoras do Da rua pra lua?
Meninas, se cuidem de dentro pra fora! Nenhuma ditadura é boa. Busquem o equilíbrio em tudo, pro corpo e pra alma. Procurem descobrir uma atividade que você goste de fazer, e faça por você em primeiro lugar, pra você se sentir bem. Pessoas tentando diminuir a gente sempre vão existir, mas a gente não pode deixar isso ser maior que o valor que a gente reconhece em nós mesmos. Se conhecer é a maior dica que eu posso deixar. Saber o seu valor, independente de “embalagem”.