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Já assisti vídeos e posts sobre mulheres que “não são nem gordas nem magras” sem me incomodar, mas de uns tempos pra cá vi que o discurso ficou extremamente banalizado devido à carga excessiva de pressão estética em cima do corpo feminino. Vejo amigas sofrendo por não se encaixarem entre as magras e nem entre as gordas, e que começaram a acreditar num limbo abissal que simplesmente não existe.

Biologicamente, o corpo humano é dividido entre três biótipos corporais principais:

Ectomorfo – aquele com dificuldade em ganhar peso, sendo massa muscular ou gordura. Possui estrutura óssea estreita;

Mesomorfo – aquele que tem facilidade para ganhar ou perder peso. Cientificamente é considerado o biótipo com estrutura óssea ideal;

Endomorfo – aquele que possui muita facilidade em ganhar peso. Possui estrutura óssea larga.

Quando falamos socialmente, o buraco é mais embaixo. Por vivência e observação, não consigo acreditar em um limbo existente entre uma mulher magra e uma gorda. Existem, sim dentro destas duas categorias, diversidade de corpos:

Magras e gordas musculosas;
Magras e gordas curvilíneas;
Magras e gordas atléticas.

Magras podem ter braço gordo, podem ter perna grossa, bunda flácida. Gordas podem ter braços finos, rosto fino, coxas torneadas.

“Magras são as modelos da SPFW”
“Gordas são as modelos Plus Size””

Lamento dizer, mas a maioria dos catálogos de moda Plus Size é formada por mulheres magras curvilíneas. Modelos vestindo manequim 44 anunciando peças que vão até o tamanho 58. Por estarem algumas vezes inseridas em marcas de moda Plus Size,  muitas reivindicam o “direito de ser gorda”, como se fosse algo super prazeroso na nossa sociedade gordofóbica.

“Ai, Mari, mas como eu vou saber se sou gorda ou não?”

Repara nas suas idas ao médico, se qualquer queixa sua vai ser relacionada ao seu peso pelo profissional. Repara na dificuldade em achar roupas – de uma maneira geral, não só na Antix ou Dress To. Repara na catraca do ônibus, se parece estar cada dia mais estreita, e se é corriqueira a necessidade de extensor para poltronas quando você viaja de avião. E se pessoas aleatórias olham pra você e se acham no direito de falar sobre a sua saúde. Repara os olhares de nojo na praia ou no clube quando você veste um biquíni.

O fato de fazerem uma mulher magra acreditar que ela é uma “não-magra”, ou que ela está inserida em um abismo entre o corpo magro e o gordo é a essência da pressão estética. Ter algumas partes do corpo mais grossas não significa ser gorda. Não entrar em um vestido tamanho G da Maria Filó não significa ser gorda. Ter aquela tia chata falando pra você fazer dieta não te faz gorda. Te faz vítima de pressão estética, algo que toda mulher sofre, da Paolla Oliveira à Tess Holliday, passando pela Gracyanne Barbosa. A pressão estética tá longe de ser algo pequeno e precisa sim ser combatida, mas é preciso entender que, se você usufrui privilégios de ser magra (como não passar pelas situações que eu expliquei no parágrafo anterior), você sabe onde se encaixa.

 

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Quando me assumi como militante gorda, comecei a prestar mais atenção nas coisas que eu falo, principalmente na internet. Qualquer palavra ou frase mal colocada pode causar uma interpretação errônea de quem lê ou ouve, e, se tem uma coisa ruim para quem quer e precisa provar um ponto, é perder credibilidade. Vejo muita gente falando que o ativismo gordo não perdoa, mas essa fala vem sempre antes de se revelar um propósito: o emagrecimento.

Veja bem, emagrecer não é um erro. Tudo bem querer emagrecer, juro. Você é dona do seu corpo, pode fazer o que bem entender com ele. Não está mais se achando linda quando se vê no espelho? Uma pena, mas pode ir fundo. Não consegue arrumar emprego e sucumbiu ao sistema? Justo. Quer entrar na roupa de marca famosinha? Ok. Eu não acredito que estes sejam motivos para desejar enfrentar um processo de emagrecimento – que por muitas vezes é fisicamente e mentalmente doloroso -, e é por isso que eu não emagreço. Mas você pode, se quiser.

Mas nunca é por isso que eu vejo a maioria das mulheres gordas anunciarem que decidiram emagrecer. O motivo é sempre a saúde. Obviamente a mais justificável das razões, mesmo vinda de mulheres que sabem que problemas de saúde têm mais a ver com sedentarismo e má alimentação que com o formato do corpo em si. Tanto que muitos médicos passam remédios para “auxiliar” no processo de emagrecimento.

Para mim, desserviço mesmo dentro da militância é a necessidade de se explicar. Porque sempre -sempre!- a emenda sai pior que o soneto. No afã de não deixar parecer que você está emagrecendo porque quer (e convenhamos, na maioria das vezes essa é a razão), surgem falas gordofóbicas no discurso, e aí, amiga, você realmente tá queimada no rolê. Mas não porque decidiu emagrecer, e sim porque está mentindo ou justificando seu emagrecimento com fundamentos gordofóbicos.

Junto com as milhões de defesas, vem também as fotos de pratos de salada, na frente do espelho na academia, e, claro, os textões atestando as alegrias de emagrecer e ser mais saudável, e daí para as famigeradas fotos de “antes e depois” é um pulo.

Volta e meia bato na tecla de que ninguém tem o direito de opinar sobre o corpo de outra pessoa. Da mesma maneira que não há a necessidade de anunciar que começou um processo de emagrecimento, porque ninguém tem nada a ver com isso. Só é impossível se expor por algo contraditório ao que se prega, e, quando alguém aponta a incoerência no discurso – e é sempre alguém do ativismo -, dizer que a militância não aceita o emagrecimento alheio.

 

 

Hoje começa mais uma novela das nove (quando eu era criança as novelas eram “das oito”), e teremos a talentosíssima Mariana Xavier no papel de Abigail, uma secretária que deverá enveredar pelo caminho das passarelas da moda Plus Size. Já tive a oportunidade de conversar com a minha xará – conversa que rendeu esse post-, e ela mesma declarou o desejo de viver uma personagem em que não houvesse nenhuma questão ou menção envolvendo seu biotipo físico.

Claro que ficaremos felizes por termos uma atriz fora dos padrões de beleza ocupando espaço no espaço premium da televisão, mas será mesmo que Abigail vai ser uma personagem daquelas que nos representará? Ou sua trama vai girar em torno de seu corpo gordo?

Puxando aqui pela memória, busquei três personagens gordas de novelas globais que foram absurdamente estereotipadas. O final de duas destas personagens foi praticamente o mesmo; de uma delas foi absurdamente ridículo, “em nome do humor”. Vamos lá:

Carola (Fernanda Souza) – O Profeta

A problematização começa quando sabemos que a atriz Fernanda Souza precisou engordar sete quilos para viver Carola, no remake de “O Profeta” em 2006. Ora, não haviam atrizes com o corpo desejado para viver a personagem? Pois bem, Carola era uma professora não-magra que, obviamente era desastrada e não entendia de moda ou beleza. Devido a isso, era motivo de vergonha para os seus pais e vivia mal humorada e sozinha. A trama de Carola é basicamente seu insucesso amoroso e sua tentativa de se tornar uma mulher bonita, ou seja, magra. No fim, a personagem tem um “final feliz”, casando com um rapaz tão desajeitado e tímido quanto ela.

Perséfone (Fabiana Karla) – Amor à vida

Perséfone foi a primeira personagem de destaque de Fabiana Karla em uma novela. Tratava-se de uma enfermeira que tinha a virgindade – ligada ao fato de ser uma mulher gorda e não desejada pelo gênero oposto- como ponto central de sua história. A personagem tinha o clichê da gorda romântica e sonhadora, mas protagonizou cenas de “comédia” (entre aspas mesmo, porque não tinha nenhuma graça) a cada tentativa de perder a virgindade. Perséfone conheceu Daniel, se apaixonou e casou, enfrentando ainda a ira de sua sogra, que não a aceitava pelo simples fato de ser gorda. A personagem ainda tinha uma música esdrúxula como tema – falei dela nesse post aqui. Óbvio que no fim ficou tudo bem e Perséfone foi feliz com seu amado.

Dona Redonda (Vera Holtz) – Saramandaia

De longe a mais ofensiva das personagens. Dona Redonda tinha várias problemáticas, a começar pelo fat suit (não sabe o que é? falei sobre nesse post aqui) usado, para que Vera Holtz ficasse o mais caricata possível. Quase todas as aparições da personagem tiravam sarro de seu tamanho e de sua fome – sim, Dona Redonda comia compulsivamente e isso era tratado como algo engraçado. Além disso, era casada com um personagem bem magro e pequeno, pra dar o tom de comédia no “desequilíbrio” do casal. Dona Redonda teve um fim bizarro: explodiu de tão gorda.

Fica aqui a torcida para que Abigail seja uma personagem que nos surpreenda  e dê um super destaque para a visibilidade de mulheres gordas, e não mais um reprodutor de estereótipos.

 

Poucos ambientes são tão opressores para gordas quanto um salão de beleza. O local onde as mulheres estão empenhadas em ficar mais bonitas obviamente abomina quem não é magra, e volta e meia o papo nas poltronas é sobre dietas e emagrecimento. Fora isso, muitas das vezes as poltronas de unha são desconfortáveis para mulheres maiores, além do medo clássico de subir na maca de depilação que provavelmente não foi feita para suportar um corpo gordo.

Pensando nisso, a empresária Jamie Lopez idealizou o Babydoll Beauty Couture, um salão de beleza totalmente pensado em mulheres maiores. Inaugurado em 2012 na Califórnia, agora terá como sede a região norte de Las Vegas, visando as boates que tem festas voltadas para gordas. As poltronas, com cerca de 2 metros de largura, suportam até 800 quilos e custaram cerca de 2.500 dólares cada, e, as macas de depilação podem ser usadas por mulheres de até 600 quilos.

Outro ponto importante é a contratação de profissionais gordos. Se o mercado de trabalho em geral é excludente com mulheres gordas, a área de beleza consegue ser ainda mais cruel. Pensando nisso, Jamie deu preferência à profissionais com corpos maiores, até mesmo para que suas clientes possam se sentir mais à vontade em serem atendidas por alguém que conhece bem as demandas de uma mulher gorda. Mais um ponto para o empreendedorismo de Jamie.

A maquiadora Nathalie Smith faturou uma vaga para o salão após ser rejeitada por grandes lojas de produtos de beleza apenas por ser gorda. Quando soube da proposta do novo espaço, não hesitou e se inscreveu. Ela começa a trabalhar no dia quatro de abril, quando o salão inaugura.

Já pensou se a moda pega no Brasil? O quão maravilhoso seria um salão ambientado para que mulheres gordas se sentissem à vontade em um lugar todo pensado para seu conforto e bem estar? Imagina reunir a gang das gordas e passar uma tarde relaxante fazendo unhas, depilação e mudando o visual sem ninguém opinando. Tô aqui fazendo planos de ir pra Vegas só para viver essa experiência.

E você, se sentiria mais acolhida em um ambiente exclusivo para gordas?

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Quem acompanha o Big Brother Brasil já conhece essa menina de trás pra frente. Ou acha que conhece. Roberta Freitas tem 21 anos, e fez parte do reality show mais famoso do Brasil. Salvo engano, foi a primeira mulher gorda a integrar o elenco de BBB, e isso fez com que a expectativa sobre sua participação fosse a mais alta possível, o que acabou nos frustrando bastante com alguns comportamentos da sister dentro da casa.

É verdade, esperávamos muito mais de Roberta. Prometia ser uma mulher sem papas na língua, sem vergonha do que realmente é e divertidíssima – não no sentido de ser a gorda-entretenimento -, mas de ser uma pessoa interessante de acompanharmos, querida. Já na primeira semana deu pra notar uma menina insegura e se anulando para ser aceita no grupinho encabeçado por Mayara, que tinha as piores atitudes dentro da casa. Quando viu que o barco de Mayara estava virando, pulou fora. Mas, ao ver do público, o maior erro de Roberta foi se afastar de Emilly, a mocinha mau caráter que a edição do programa tenta fazer com que a gente engula. Apesar dos aparentes desvios de caráter, o público julga que Emilly merece compreensão, afinal, é só uma menina jovem “em idade de errar”. Roberta, apenas um ano mais velha que Emilly, não é vista da mesma maneira. Por que será? A rejeição de Roberta certamente tem a ver com uma sociedade racista e gordofóbica que fica apenas esperando o primeiro deslize para que possa destilar todo o seu preconceito por minorias.


E como toda participante que é eliminada do programa, ela participou de um super ensaio do Paparazzo. É claro que vai gerar revolta na galera que tá acostumada a ver ensaios de modelos 100% dentro dos padrões de beleza, já li até alguns comentários bem revoltantes. Mas, como diz a sábia, “atura ou surta”. Com dobrinhas e muito corpo à mostra, Roberta está plenamente maravilhosa e linda nesse ensaio. Dêem uma olhada nessas fotos e corram para o Paparazzo, porque a mulher tá pisando!


 

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