Antes que me acusem de ser elitista por criticar músicas populares: eu amo os ritmos e cantores que vou criticar nesse post. Sei que é complicado manter a razão quando somos fãs de alguém e rola uma decepção, mas estamos em 2016 e não dá mais pra passar pano pra vacilo.

Tenho muitas amigas gordas adicionadas no meu perfil no Facebook, e ontem vi que tinham mais de 10 compartilhamentos do vídeo uma música da dupla sertaneja César Menotti e Fabiano que “homenageia” as gordinhas. Fui olhar a letra e:

“Ela não anda, não malha, não corre
Mas ela se cuida como ela pode
Ela é gordinha mas é minha, eu não troco por nada
Quando sai comigo ela arrasa na balada
Ela é gordinha mas é minha, tem gente querendo
Olha que sucesso minha gordinha tá fazendo”

Em que planeta isso é homenagem??? Lutamos tanto para não sermos rotuladas e aplaudimos música que relaciona nosso tipo físico com sedentarismo? 
E “ela é gordinha, mas..”. Mas nada, gente. Parece que tá falando de carro, sabe aqueles adesivos “é velho, mas é meu”? Não tem mas, ninguém tem que se justificar por ser gorda, menos ainda por se relacionar com uma gorda. Mulher NENHUMA deve se submeter a um homem que usa esse tipo de discurso, é nocivo e depreciativo.
Outro estilo musical que eu gosto bastante é o pagode. Sorriso Maroto é uma das bandas mais famosas atualmente, emplacando músicas nas paradas, fazendo uma série de shows e participando de trilhas sonoras do horário nobre. 
Na novela “Amor à Vida”, a personagem Perséfone, vivida por Fabiana Karla sofria gordofobia de todos os lados. Nem a música da personagem, cantada pelo Sorriso Maroto aliviou a personagem.
“Esses quilos a mais é o que me atrai
Poderosa, gostosa, mais que demais!
Ainda por cima é moça
Essa bicicleta ninguém pedalou”



Perséfone era virgem-porque-era-insegura-porque-era-gorda. Caía na mão de fetichistas que tinham esse discurso de “só gosto de gordinhas”, ficava com eles, mas sempre dava um jeito de escapar. Enquanto isso, a música tema dela era uma música que a comparava com uma bicicleta, uma coisa, um objeto que ninguém usou. Isso não é homenagem em lugar nenhum desse planeta, manas.
Por último, o rei. Ele, o cara de pau que só aparece no fim do ano pra lançar CD com um monte de músicas velhas. Nos anos 90 Roberto Carlos foi pioneiro e “presenteou” as mulheres gordas com uma canção bem tosca.
“Já no passado os mestres da arte diante da formosura
Não dispensava o charme de uma gordinha em sua pintura
Gosto de me encostar nesse seu decote quando te abraço
De ter onde pegar nessa maciez enquanto te amasso”

Mulher não tem que ser magra ou gorda pra agradar o parceiro ou parceira, mulher não é almofada ou travesseiro pra ser fofa ou aconchegante. Não tem que “ter onde pegar”, nós não estamos numa competição com mulheres magras sobre quem é mais gostosa ou quem atrai mais homens.  Quando entendermos isso, vamos estar libertas e ir atrás do que realmente importa na luta contra a gordofobia.
Sei que muitas vezes bate a carência e a gente quer se sentir amada ou homenageada de algum jeito, mas essas músicas não contribuem em nada. Não precisamos de músicas falando um monte de groselha pra nos sentirmos bonitas, não podemos aplaudir isso e dar munição para fetichistas tratarem a gente como se fôssemos objetos. Não vamos considerar arte algo que maltrata e fere outras mulheres. Não podemos nos sentir representadas por um discurso que só nos esvazia.

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