Quando falamos em gordofobia e em todas as dores, traumas e abalos que ela causa nas pessoas gordas e obesas, a tendência é ter sempre alguém para minimizar a questão e dizer que também sofre aquilo. Toda gorda já ouviu pelo menos uma vez de alguma amiga as seguintes frases:

“Preciso emagrecer, minha mãe vive no meu pé dizendo que eu tô gorda.”


“Vou dar uma segurada nas gordices**, daqui a pouco vou ter que vestir 46″

“Segunda-feira eu volto pra academia, projeto verão 2030 tá aí rssssssss”

Veja bem. Essa pressão acerca da estética colocada em cima da maioria das mulheres, essa busca pelo corpo ideal , etc. é muito ruim. Mas NÃO É GORDOBOFIA. Existe uma diferença muito grande entre se sentir gorda e realmente ser gorda. E é sobre isso que eu falarei na seção ‘Onde os gordos não tem vez’ . Sobre como direitos a atividades básicas são negados à pessoas gordas, muitas vezes disfarçados.
“Ser gorda não faz de você uma pessoa inferior”
“No momento estamos procurando por um outro perfil”.
Você tem tudo o que a vaga pedia, e mais um pouquinho. Na dinâmica é claramente uma das candidatas mais preparadas. Alguns dias depois, a pessoa responsável pelo processo seletivo te liga e diz que infelizmente você não estava no perfil daquela vaga, ou encontraram uma pessoa que tem mais o perfil da empresa. Mas qual seria esse perfil?
Um estudo feito em 2014 com dezesseis mil pessoas apontou que 15,8% dos entrevistados têm muita rejeição para presidentes e diretores obesos e 10,4% para gerentes e supervisores. O estudo ainda apontou ainda que quando mais alto o cargo, menos obesa espera-se que a pessoa seja. Cada vez mais vemos casos de concursados públicos – professores, auditores, e até fiscais de renda – que se esforçam, passam meses (ou anos) estudando para concursos, e, apesar de terem ótimos exames e saúde invejável, são considerados inaptos a exercerem seus cargos por causa do peso. 
É claro que em processo seletivo de empresas privadas o recrutador jamais vai dizer que você não foi contratado por ser gorda. Mas os estigmas que nos acompanham são muito injustos, e, não raramente, acabam por nos eliminar do recrutamento. Gordos são vistos como preguiçosos e desleixados, características que chefe nenhum quer no seu funcionário, né?
Se falarmos em profissões que “trabalhem com a imagem”, então… Quem aí já viu recepcionista gorda? E repórter? E quem nunca estranhou o fato de todas as comissárias de bordo serem magras? E assim vem sendo segmentado e delimitado o espaço das mulheres gordas no mercado de trabalho. É importante que os profissionais de RH se reciclem e se atualizem cada vez mais, para que não deixem esse tipo de pensamento se perpetuar ou contaminar outros executivos e chefes. Não podemos deixar que a gordofobia ganhe mais espaço no mercado de trabalho.
Se você, assim como eu, é uma pessoa preparada para o mercado, sem medo de trabalho e tá louca por um emprego, eu digo que não tá fácil pra ninguém, mas fica aí a dica:
“Não interesse de onde você veio, de que cor você é ou qual o formato do seu corpo… seja o melhor que você puder.”
** Associar junkie food a gordos é erradíssimo. Muitos gordos se alimentam de forma saudável e nem passam perto de comidas processadas, enquanto ninguém se importa com gente magra comendo x-tudo.

3 Comments

  1. Que questionamento importante, me fez parar para pensar ainda mais sobre o assunto 🙂
    Fico me perguntando como chegamos ao ponto de que quanto mais alto o cargo, menos obesa espera-se que a pessoa seja??!! É tão absurdo.
    E acredito que muitas pessoas falem que seja besteira. "Imagina, é claro que ser gordo não influencia na hora de conseguir um emprego". Mas é o que você disse, quantas comissárias de bordo são gordas? Quantos repórteres?

  2. Nossa, eu não sabia desses dados. É tudo tão ridículo, não faz o menor sentido. Eu fico feliz de ver as pessoas cada vez mais apaixonadas por quem são, e acho realmente importante essa sua série de postagens, para conscientizar mesmo, mostrar essa realidade pra galera, porque alguma coisa tem que ser feita. Ah, e adorei seu jeito de escrever.
    Beijos!

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