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Hoje começa mais uma novela das nove (quando eu era criança as novelas eram “das oito”), e teremos a talentosíssima Mariana Xavier no papel de Abigail, uma secretária que deverá enveredar pelo caminho das passarelas da moda Plus Size. Já tive a oportunidade de conversar com a minha xará – conversa que rendeu esse post-, e ela mesma declarou o desejo de viver uma personagem em que não houvesse nenhuma questão ou menção envolvendo seu biotipo físico.

Claro que ficaremos felizes por termos uma atriz fora dos padrões de beleza ocupando espaço no espaço premium da televisão, mas será mesmo que Abigail vai ser uma personagem daquelas que nos representará? Ou sua trama vai girar em torno de seu corpo gordo?

Puxando aqui pela memória, busquei três personagens gordas de novelas globais que foram absurdamente estereotipadas. O final de duas destas personagens foi praticamente o mesmo; de uma delas foi absurdamente ridículo, “em nome do humor”. Vamos lá:

Carola (Fernanda Souza) – O Profeta

A problematização começa quando sabemos que a atriz Fernanda Souza precisou engordar sete quilos para viver Carola, no remake de “O Profeta” em 2006. Ora, não haviam atrizes com o corpo desejado para viver a personagem? Pois bem, Carola era uma professora não-magra que, obviamente era desastrada e não entendia de moda ou beleza. Devido a isso, era motivo de vergonha para os seus pais e vivia mal humorada e sozinha. A trama de Carola é basicamente seu insucesso amoroso e sua tentativa de se tornar uma mulher bonita, ou seja, magra. No fim, a personagem tem um “final feliz”, casando com um rapaz tão desajeitado e tímido quanto ela.

Perséfone (Fabiana Karla) – Amor à vida

Perséfone foi a primeira personagem de destaque de Fabiana Karla em uma novela. Tratava-se de uma enfermeira que tinha a virgindade – ligada ao fato de ser uma mulher gorda e não desejada pelo gênero oposto- como ponto central de sua história. A personagem tinha o clichê da gorda romântica e sonhadora, mas protagonizou cenas de “comédia” (entre aspas mesmo, porque não tinha nenhuma graça) a cada tentativa de perder a virgindade. Perséfone conheceu Daniel, se apaixonou e casou, enfrentando ainda a ira de sua sogra, que não a aceitava pelo simples fato de ser gorda. A personagem ainda tinha uma música esdrúxula como tema – falei dela nesse post aqui. Óbvio que no fim ficou tudo bem e Perséfone foi feliz com seu amado.

Dona Redonda (Vera Holtz) – Saramandaia

De longe a mais ofensiva das personagens. Dona Redonda tinha várias problemáticas, a começar pelo fat suit (não sabe o que é? falei sobre nesse post aqui) usado, para que Vera Holtz ficasse o mais caricata possível. Quase todas as aparições da personagem tiravam sarro de seu tamanho e de sua fome – sim, Dona Redonda comia compulsivamente e isso era tratado como algo engraçado. Além disso, era casada com um personagem bem magro e pequeno, pra dar o tom de comédia no “desequilíbrio” do casal. Dona Redonda teve um fim bizarro: explodiu de tão gorda.

Fica aqui a torcida para que Abigail seja uma personagem que nos surpreenda  e dê um super destaque para a visibilidade de mulheres gordas, e não mais um reprodutor de estereótipos.