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Comportamento

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O que eu vou escrever nesta carta nada mais é do que um compilado de coisas que eu li na internet nos últimos dois dias, com algumas observações minhas.

Lembra quando há uns 5 anos atrás você não conseguia se ver nas revistas ou nos catálogos de moda? Era um saco, né? Não ter um pingo de representatividade na mídia ou em qualquer outra esfera.
Em determinado momento, veio o boom da moda Plus Size no Brasil. Na verdade, começaram a dizer que você que veste acima do 44 (inclusive já vi gente falando em 42) tá na categoria Plus Size. As mulheres Plus Size viraram sinônimo de autoconfiança, sensualidade, beleza. As marcas, apostando em um nicho que estava sedento por um mínimo de representatividade, começaram recrutar moças como você para estamparem suas campanhas. Não traria grandes mudanças, já que essas lojas já vestiam vocês.

Com isso vieram os concursos de beleza. O empoderamento servindo ao capital. A exploração de mulheres que tinham a autoestima minada por essa sociedade misógina e gordofóbica. Todas podem ser misses, modelos, sexies, desde que assinem um cheque ou passem um cartão pra se inscrever no concurso. Empoderadas demais. “Quem disse que gordinha não pode ser sexy?”, você e suas colegas colocam na legenda de fotos de lingerie. Mas a colega que faz um ensaio mais amador em busca desse mesmo empoderamento que vocês bradam é exposta e ridicularizada nas redes sociais. Honestamente, não consigo entender.

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Foto: reprodução do Google

O tempo passou e você nem percebeu, mas se tornou… Banal. Ashua, C&A Special for you, T-Plus… Todas as lojas queriam mulheres como vocês. Claro que sempre rolava aquele retoque no Photoshop, afinal, empoderamento vende, mas só se a sua bunda estiver lisinha, né?
Entre uma campanha e outra, as mulheres gordas não se sentiam mais representadas por vocês. E como vocês fizeram há alguns anos atrás, adivinha? Começaram a questionar o sistema. De você e das suas colegas de trabalho poderiam ter vindo o apoio e a empatia, mas o máximo que consegui captar foi vocês falando em mimimi e vitimismo, o que fere ainda mais quem tá em busca pelo direito de ter o básico, como um bom atendimento médico, roupa pra vestir – e aqui não falo de roupa jovem, estilo x ou y, que tb deveriam oferecer, mas de qualquer roupa -, acessibilidade nos transportes,

Sabe, modelo, as demandas das mulheres gordas passam também pela representatividade, mas vão muito além dela. Quando você enche a boca pra defender uma campanha em que a loja te chama de gorda, eu prefiro achar que você não tá ligada nas discussões sobre gordofobia. Você quer ser gorda pra defender seu job de modelo. Enquanto isso tem gorda que tá buscando inserção no mercado de trabalho, em qualquer área. Você diz que tem IMC 28,4, e por isso é gorda, enquanto eu chego na ginecologista e ela me indica uma bariátrica e diz que eu não vou chegar até os 50 anos. Você fala que as marcas são maravilhosas e vestem todos os corpos, enquanto tem mulher que só veste “o que cabe”. Não tem nenhuma gorda querendo “roubar o seu lugar” a ponto de você, que sempre se intitulou Plus Size – querer defender a todo custo que é gorda. A única coisa que eu e várias outras militantes gordas queremos, é que você tenha um pouco de noção.

Por último, cara modelo, eu quero que você volte a sua memória para aquele tempo de apagamento, e tenha empatia pelas mulheres gordas, pois fico muito feliz em te informar que não daremos nenhum passo atrás.

Na contramão das matérias de grandes portais que exaltam “musas” e “musos” das piscinas, quadras e de outros ambientes onde ocorrem as disputas por medalhas, esse é um post para exaltar os corpos gordos e como eles contrariam o senso comum ridículo de que gordo não se exercita nem leva uma vida disciplinada.

Quer saber mais sobre três gordas que estão competindo nos Jogos Olímpicos? Dá só uma olhada:

Teresa Almeida, mais conhecida como Ba.  Goleira da seleção de Handebol de Angola
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Angola tem se mostrado a “zebra” da competição, vencendo partidas contra seleções de Romênia e Montenegro. Ba tem recebido o carinho da torcida brasileira, que não tem vergonha em dizer que “a Ba é melhor que o Neymar”.
 
Heidi Diethelm Gerber, atleta do Tiro Esportivo
 
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A atleta suíça ganhou medalha de bronze ontem na categoria 25m do Tiro Esportivo Feminino.


Melissa Seidemman, jogadora de Polo Aquático

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Melissa pesa 104kg e já ajudou a seleção norte americana de Polo Aquático a vencer as equipes da França e da Espanha.

Claro que muitos outros atletas também são gordos! A BBC quis provar que a diversidade de corpos está presente nas Olimpíadas, e criou um site onde você coloca algumas informações sobre seu corpo e descobre “quem é você” nas Olimpíadas! Fiz o meu e apareceram duas atletas do levantamento de peso e uma do atletismo.

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Essas mulheres, além de terem o super mérito de estarem na maior competição esportiva do mundo, estão dando um show de representatividade e mostrando pro mundo que ser gorda tá longe de ser uma questão de preguiça e sedentarismo.

Antes que me acusem de ser elitista por criticar músicas populares: eu amo os ritmos e cantores que vou criticar nesse post. Sei que é complicado manter a razão quando somos fãs de alguém e rola uma decepção, mas estamos em 2016 e não dá mais pra passar pano pra vacilo.

Tenho muitas amigas gordas adicionadas no meu perfil no Facebook, e ontem vi que tinham mais de 10 compartilhamentos do vídeo uma música da dupla sertaneja César Menotti e Fabiano que “homenageia” as gordinhas. Fui olhar a letra e:

“Ela não anda, não malha, não corre
Mas ela se cuida como ela pode
Ela é gordinha mas é minha, eu não troco por nada
Quando sai comigo ela arrasa na balada
Ela é gordinha mas é minha, tem gente querendo
Olha que sucesso minha gordinha tá fazendo”

Em que planeta isso é homenagem??? Lutamos tanto para não sermos rotuladas e aplaudimos música que relaciona nosso tipo físico com sedentarismo? 
E “ela é gordinha, mas..”. Mas nada, gente. Parece que tá falando de carro, sabe aqueles adesivos “é velho, mas é meu”? Não tem mas, ninguém tem que se justificar por ser gorda, menos ainda por se relacionar com uma gorda. Mulher NENHUMA deve se submeter a um homem que usa esse tipo de discurso, é nocivo e depreciativo.
Outro estilo musical que eu gosto bastante é o pagode. Sorriso Maroto é uma das bandas mais famosas atualmente, emplacando músicas nas paradas, fazendo uma série de shows e participando de trilhas sonoras do horário nobre. 
Na novela “Amor à Vida”, a personagem Perséfone, vivida por Fabiana Karla sofria gordofobia de todos os lados. Nem a música da personagem, cantada pelo Sorriso Maroto aliviou a personagem.
“Esses quilos a mais é o que me atrai
Poderosa, gostosa, mais que demais!
Ainda por cima é moça
Essa bicicleta ninguém pedalou”



Perséfone era virgem-porque-era-insegura-porque-era-gorda. Caía na mão de fetichistas que tinham esse discurso de “só gosto de gordinhas”, ficava com eles, mas sempre dava um jeito de escapar. Enquanto isso, a música tema dela era uma música que a comparava com uma bicicleta, uma coisa, um objeto que ninguém usou. Isso não é homenagem em lugar nenhum desse planeta, manas.
Por último, o rei. Ele, o cara de pau que só aparece no fim do ano pra lançar CD com um monte de músicas velhas. Nos anos 90 Roberto Carlos foi pioneiro e “presenteou” as mulheres gordas com uma canção bem tosca.
“Já no passado os mestres da arte diante da formosura
Não dispensava o charme de uma gordinha em sua pintura
Gosto de me encostar nesse seu decote quando te abraço
De ter onde pegar nessa maciez enquanto te amasso”

Mulher não tem que ser magra ou gorda pra agradar o parceiro ou parceira, mulher não é almofada ou travesseiro pra ser fofa ou aconchegante. Não tem que “ter onde pegar”, nós não estamos numa competição com mulheres magras sobre quem é mais gostosa ou quem atrai mais homens.  Quando entendermos isso, vamos estar libertas e ir atrás do que realmente importa na luta contra a gordofobia.
Sei que muitas vezes bate a carência e a gente quer se sentir amada ou homenageada de algum jeito, mas essas músicas não contribuem em nada. Não precisamos de músicas falando um monte de groselha pra nos sentirmos bonitas, não podemos aplaudir isso e dar munição para fetichistas tratarem a gente como se fôssemos objetos. Não vamos considerar arte algo que maltrata e fere outras mulheres. Não podemos nos sentir representadas por um discurso que só nos esvazia.

Este NÃO é mais um post sobre a dieta detox da moda ou com altos níveis de cagação de regra nas refeições de vocês. Pode parecer um papo chato e clichê, mas queria falar sobre o que a gente anda consumindo e oferecendo às outras pessoas na internet. Alimento para a mente, saca?

Desde que comecei a buscar mais informações e debates sobre gordofobia, uma coisa inusitada chama minha atenção: por que em todos os grupos e fóruns, os membros – em sua maioria gordos, como deve ser – ficam compartilhando postagens gordofóbicas, ou comentários de portais gordofóbicos, ou “piadas” gordofóbicas?  Não é raro ver esses compartilhamentos com uma legenda que diz “olha que absurdo, gente”. É isso mesmo que queremos compartilhar com as pessoas que muitas vezes já sofrem gordofobia agressiva fora da internet?

Infelizmente não dá pra simplesmente ignorar alguns posts ou comentários, mas deixa eu compartilhar uma novidade com vocês: precisamos escolher as batalhas que vamos enfrentar. Durante um tempo, eu fiquei raivosa e agressiva, pois passava dias discutindo com pessoas que falavam que ser gordo é doença, que gordas não podem isso ou aquilo, e, principalmente, a galera que fazia memes e posts engraçadinhos com gordos. Onde isso me levou? A lugar nenhum. Eu passava tanto tempo naquele estado de ódio, que quando me desconectava tinha dificuldades em lidar com as pessoas à minha volta.

Foi preciso um sacode de uma amiga, pedindo pra eu baixar a guarda e colocar o pé no freio, pra que eu me desse conta que estava passando tempo demais discutindo com quem não valia a pena. Quando alguém posta algo ofensivo em tom de deboche, piada ou provocação, essa pessoa não quer debater e refletir sobre o debate, ela quer simplesmente: (1) ganhar likes e (2) humilhar o outro. Vale a pena se esgoelar para quem não tá nem aí pra você? Eu acho que não. Não quer desfazer a amizade com a pessoa? Pare de segui-la, ou, se for alguma página produzindo conteúdo preconceituoso, mais fácil ainda: pare de curtir.

Marcar amigos gordos ou compartilhar esse tipo de coisa em grupos de debate contra a gordofobia é ainda pior, porque pode ativar o gatilho da raiva em outras pessoas, e não sabemos como cada um vai reagir. Eu não sou a pessoa mais espiritualizada do mundo e tô longe de ser psicóloga, mas se alimentar mentalmente de coisas que nos provocam sentimentos nocivos não parece ser a opção mais saudável.

Que tal mantermos o foco no que faz bem? Em exemplos inspiradores de mulheres gordas (Alguém já viu o bebê fofo da Tess Holliday?), nas novas marcas surgindo (dia 3 vai ter o lançamento da Maria Abacaxita, em SP!), nos bazares, debates que enriqueçam, na troca de experiências. Garanto que fortalece mais que Biotônico Fontoura.

Com apenas 20 anos e seguindo a última tendência das mulheres invadindo as paradas sertanejas, Marília Mendonça é a nova estrela da sofrência. Eu sou uma recém fã do estilo, mas não resisto quando ouço os primeiros acordes de “Infiel”, sua música de maior sucesso, e fico de cara toda vez que aquele vozeirão explode.

E não é só na voz que Marília chama atenção. Sempre falo por aqui do quanto as pessoas acham que corpo de mulher é bagunça, mas, quando essa mulher é famosa, a coisa toda só piora. Vide as capas de revistas e chamadas de portais, falando sobre “gordurinhas”, celulites e estria, ou pior, sobre a “boa” ou “má” forma das celebridades. Marília Mendonça passa longe do que a nossa sociedade problemática considera padrão, tanto que “consultores de imagem” já sugeriram que ela emagrecesse. A resposta foi direta e reta: “Não aceito. Eu subo no palco para cantar. O que me interessa é transmitir uma mensagem positiva. Não vou entrar nessa. Começa mudando por fora e depois muda por dentro.” (Fonte: iBahia)

Fofa, né? Tão bom ver uma mulher jovem e consciente do que é e do que pode ser pra outras mulheres, chega a dar um quentinho no coração. Sem falar nas músicas, que em sua maioria falam sobre dar a volta por cima após um relacionamento fracassado. Não precisa me agradecer por essa música abaixo, tá?

Após passar dias e dias ouvindo essa delícia no Spotify e vendo vídeos no YouTube, reparei que a moça tá sempre com as pernocas, e vez ou outra mostrando a barriga. Procurei looks dela, e fiquei altamente identificada com o estilo. Vem se apaixonar comigo, gente!

Jaqueta + Hot pants de couro/napa
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Vestido coladinho? Pode sim!
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Colete jeans e shortinho desfiado
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Jaqueta estampada + short básico
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Blusa e short pretos, com um casaquinho nada básico por cima
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Macaquinho trabalhado em renda13518226_462554190599834_164640570_o

Todas as fotos foram tiradas do site oficial da cantora.

Agora vamos ao hit? Se você ainda não conhece, prepare-se pra ficar com a música grudada por horas na cabeça.