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representatividade gorda

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Se tem uma coisa que mulheres consideradas fora do padrão de beleza curtem, é a representatividade. Eu mesma sou uma das que dá pulos de alegria quando vejo uma gorda estampando capa de revista ou fazendo campanhas fora do nicho da moda Plus Size. Esse sentimento ainda é considerado crucial para que mulheres gordas se amem e se orgulhem de serem quem são.

Mas a representatividade não pode ser só uma palavra jogada ao vento, ou pior, palavra usada apenas com o intuito de lucrar. Claro que esse é o interesse maior de todas as empresas, mas, de que adianta todo um discurso empoderador se as próprias organizações não são um lugar seguro para essas minorias?

A Skol fez uma campanha super bacana sobre sair do seu quadrado e perder a vergonha de qualquer característica fora do padrão de beleza nesse verão, mas quem são as mulheres que a marca contrata para promover seus produtos?

Que cena mais linda, será que eu estou atrapalhando o padrãozinho aí?

O discurso em um tom imperativo para que você não tenha vergonha do seu corpo cai por terra quando não existem pessoas gordas no quadro de funcionários, ou ainda pior, quando não há também uma campanha interna de conscientização contra a gordofobia e seus funcionários continuam tendo atitudes gordofóbicas.

Quando a dupla César Menotti e Fabiano lançou a música Gordinha, eu escrevi esse post problematizando a letra dessa e de outras músicas do tipo, e só faltei ser apedrejada. Várias meninas gordas amaram, se sentiram homenageadas por uma letra totalmente pejorativa e falaram que essa música dava visibilidade às mulheres gordas, que nunca são citadas como musas em músicas românticas. A partir disso, a gente imagina que os dois se relacionem com mulheres gordas, correto? Ora, eles cantam isso, as gordinhas são musas deles!

Só que não

“Ah, Mari, então você quer dizer que não adianta ter dançarina gorda no ballet da Anitta no Criança Esperança?”

Não, de maneira alguma! Eu quero mesmo é que o ballet fixo da Anitta conte com pelo menos uma gorda, e que ela pare de dar declarações gordofóbicas sobre dietas e comidas por aí. Não adianta se exibir em um número, postar uma foto com as dançarinas e dizer que elas arrasam, se não vê “capacidade” (quem viu o número no Criança Esperança atestou que as bailarinas eram ótimas!) em pelo menos uma delas para integrar o quadro de bailarinas para turnês.

Vamos cobrar representatividade sim, mas que vá além do discurso superficial. Precisamos deixar de ser apenas partes de um discurso visando exclusivamente vendas para cobrarmos ações efetivas no combate à gordofobia e nas ações de body positive.

Vamos juntas nessa jornada? Conheça também minhas outras redes sociais para debatermos esse e outros assuntos relacionados ao movimento gordo —> Instagram – FacebookPinterest

De uns dois anos pra cá, começaram a pipocar comerciais e campanhas de marcas que visam o empoderamento de minorias. Salvo engano, o primeiro comercial “polêmico” foi o d’O Boticário, em que um casal de homens gays comemorava o natal (ou dia dos namorados, ou qualquer outra data comercial, rs).  A cada “diferente” que aparecia em propagandas tendo sua condição social celebrada, vinha uma pororoca de reclamações das mais diversas. Com as gordas não seria diferente, rs.

Ano passado, a Ju Romano saiu nua na capa da Elle online, com celulites e dobrinhas à mostra. Foi o suficiente para as leitoras da revista baterem palmas, com ressalvas de que “se a saúde dela está bem, então tá ótimo”. Como se isso fosse uma preocupação em todas as outras 11 capas do ano, com modelos magérrimas. O mesmo aconteceu quando a Ju anunciou que sairia na Playboy. Como uma mulher gorda ousaria posar para uma revista famosa por fazer editoriais com mulheres encalacradas no padrão socialmente aceito de beleza. Nesse episódio da Playboy, vi até feminista tentando diminuir a blogueira . É complicado entender o impacto da representatividade quando não é feito recorte no feminismo. Nenhuma mulher magra vai conseguir entender o significado de ter a Ju Romano como atração da revista.

E assim é com qualquer outra mídia que se atreva a colocar uma gorda na mídia desconstruindo a imagem de sofrida/engraçada/feia/preguiçosa/triste. Sempre vai ter alguém para reclamar, sempre vai ter alguém pra falar que “não importa se é gorda ou magra, somos todas iguais”, ou que querem insistir que ser gordo é bonito. É claro que, na maioria das vezes, o comentário vem de uma pessoa magra.

Seria perfeito que todos fossem celebrados exatamente do jeito que são. Mulheres e homens, cis ou trans, de todas as etnias, condições e biotipos físicos, independente de orientação sexual. Mas a internet tá aí, dia após dia mostrando para o mundo que não é bem assim. A quantidade de comentários de ódio dizendo que as empresas estão fazendo apologia à obesidade é inacreditável, e, com a rejeição, muitas marcas acabam recuando, o que é uma pena, porque:

 

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Gorda usa maquiagem

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Gorda abre conta no banco, faz cartão de crédito, entra no cheque especial (risos nervosos)

 

                                    Gorda bebe cerveja

 

E usa pasta de dente, come pão com margarina, tem celular de última geração… Portanto, esse é só o início. Nenhum passo atrás.