Na última semana o universo das mulheres gordas foi permeado por um assunto que rendeu muita discussão, alfinetadas e até brigas entre it gordas nas redes sociais: o lançamento da Ashua, marca plus size da já conhecida fast-fashion Renner.

Eu mesma já havia falado aqui sobre as minhas expectativas pra marca, que prometia revolucionar o mercado de roupas plus size, mas aí veio o lançamento e… 
A maioria dos meus shorts e calças transitam entre o 52 e o 54, mas, segundo a tabela de medidas na loja virtual da marca, nada me serviria. Eu deveria imaginar, afinal, o GG da Renner tá cada dia menor. Ou seja, aquele papo de “o tamanho que importa não é o da cintura e sim do talento e da autoestima de cada uma de nós” é balela. Se a sua cintura for maior que 110cm, a Ashua não tá nem aí pra sua autoestima ou seu talento. Essa foi a minha primeira impressão sobre a marca, e também a única que merece ser compartilhada. Se não me serve, nem pra mulheres que vestem números acima do meu, pra que vou dar opinião sobre estilo e preços?
Porém, todo o debate acerca do lançamento da Ashua me chamou atenção pela defesa da marca feita por algumas pessoas. Listei 3 coisas que li e gostaria de colocar o meu próprio ponto de vista:
1) Roupa plus size é mais cara porque usa mais material (tecido, linhas e aviamento)
É importante deixar claro que não estamos falando de uma marca de mina empreendedora, nem da tia que costura nos fundos de casa. Estamos falando da Renner, uma das maiores varejistas do mercado. Que compra material em grande quantidade, normalmente importado da China. Que tem trabalho escravo em seu histórico de produção. 
Segundo uma fonte especialista em mercado de moda, uma peça vendida a R$49,90 em grandes lojas varejistas tem o custo médio total de R$5,00. Isso mesmo, CINCO REAIS. Eu sei que ninguém trabalha de graça, mas 900% de lucro não parece ganancioso demais? Ah, e a crise não bateu na porta da varejista não, tá? No segundo trimestre do ano passado, o lucro líquido da Renner subiu mais de 30%, segundo essa matéria do G1.
2) A Renner fez toda uma estratégia de branding e posicionamento, pra se inserir “de cabeça” no mercado plus size
Muito se fala em desassociar o termo Plus Size de mulheres gordas. A moda é o maior dos exemplos disso, quando temos uma marca bilionária apostando em roupas maiores, mas que só vistam até o 54 (e com uma modelagem desonesta, é preciso reiterar). O conceito e o vídeo de apresentação, pelo menos pra mim, que visto 54 soa como uma grande piada, e me coloca a cada dia mais longe do plus size. Eu não tenho que esperar mais um pouco para que ajustem a grade dos tamanhos, estamos falando de uma das maiores varejistas do Brasil! Que tem grana e teve tempo suficiente pra fazer um trabalho maravilhoso, pesquisas, etc, e conseguiu dar um tiro no pé! Usar as palavras do vídeo pra defender a marca é de uma falta de empatia enorme com as mulheres gordas que vestem tamanhos maiores.
3) A Ashua é uma marca mais clássica e chic
Eu falei que não entraria em estilo, mas esse argumento foi o que mais me chocou. Quem trabalha com moda deveria saber que existe um ABISMO entre as estampas fofas e os cortes clássicos. Eu, por exemplo, muitas vezes assumo o estilo ‘pirigorda’, com shortinho jeans e cropped. Mas preciso bater muita perna pra conseguir um shortinho. Cropped estiloso então, só mandando fazer. A prórpia Renner é uma loja que se orgulha de dizer que veste todos os estilos, mas parece que não estendeu isso à Ashua. Mais uma vez, eu volto ao vídeo de pré-lançamento da marca, que diz que uma mulher pode ser o que ela quiser. Nem toda mulher trabalha em escritório/fórum/banco, muitas gostariam de t-shirts divertidas, jeans em diferentes cortes, outros modelos de vestidos. Um exemplo maravilhoso de marca plus size que contempla estilos diversos (e tamanhos também!), é a Asos Curve, que eu, inocente, achei que seria uma inspiração pra Ashua, rs. Então, tirando algumas peças, não consigo me visualizar indo pra um show ou pra um jantar com uma roupa da Ashua. Sou menos chic por isso? Segundo andei lendo por aí, sim. 
A conclusão é que pra mim, o que a Renner/Ashua está fazendo é desonestidade das grandes, e pior, apoiada por uma minoria de mulheres gordas que, porventura couberam nas roupas. Como jornalista e blogueira, acho que a gente tem o dever de informar, e, claro, quando for o caso, opinar. O que a gente não pode é opinar ofendendo ou desmerecendo o outro, principalmente o leitor. Prudência, dinheiro no bolso, canja de galinha e empatia não fazem mal a ninguém.

1 Comment

  1. O problema dos tamanhos foi o pior pra mim. Como uma linha plus size faz tamanhos tão pequenos? É muita desonestidade mesmo. Até gostei das roupas, mas não é nenhuma novidade perto da linha regular, não entendi o burburinho.

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